O torcedor do Inter pode lembrar do zagueiro Sidnei pela conquista da Recopa Sul-Americana, em 2007. Naquela altura, então com 18 anos, ele formava a dupla de zaga com o ídolo colorado Índio. Já era uma grande vitória para o garoto nascido no Alegrete. Hoje, aos 29 anos de idade, é apenas mais uma das histórias que ele pode contar. Desde então, foram quatro temporadas defendendo o Benfica, de Portugal; uma breve passagem pelo Besiktas, da Turquia; e mais seis anos no futebol espanhol encarando Cristiano Ronaldo e Messi com as camisas do Espanyol, Deportivo La Coruña e Real Betis. Neste último clube, inclusive, que está desde agosto, lidera o Grupo F da Liga Europa, à frente do Milan. Aliás, recentemente, ajudou sua equipe a vencer o Barcelona por 4 a 3 em pleno Camp Nou. Com atuações destacadas, Sidnei recebe elogios da imprensa espanhola.
O que mudou nesta temporada em relação às anteriores para você se destacar mais?
Acredito que isso se deva a um aspecto individual e coletivo. A equipe tem feito grandes jogos e eu tenho contribuído com atuações consistentes. É sempre o conjunto. Toda essa experiência de Europa faz com que a imprensa me observe com mais atenção também. E a vivência nas diferentes escolas de futebol fizeram com que eu evoluísse como atleta e chegasse a este nível de maturidade profissional para fazer diversas leituras do jogo e me adaptasse com facilidade aos grandes confrontos que temos por aqui. O Betis vive um momento importante e buscamos dar o nosso melhor pra seguirmos cada vez mais fortes no espanhol e na Liga Europa. Podemos crescer ainda mais e estamos no caminho para fazer uma grande temporada. É preciso ajustar nossas imperfeições e aprimorar nossas qualidades. Tenho certeza que fazendo isso nós poderemos conquistar nossos objetivos para a temporada 2018/19.
Há um mês, sua equipe venceu o Barcelona no Camp Nou. Como foi esta experiência?
Fizemos um grande jogo. É complicado pegar os caras, ainda mais fora de casa (risos). Mas, trabalhamos forte na preparação para conseguirmos enfrentar com sucesso todos os jogos do Campeonato Espanhol. Contra as principais equipes sempre é um campeonato à parte, mas damos a mesma importância que aos demais jogos. Dentro de campo, sabemos que a parada é duríssima e que qualquer vacilo nos tiraria a glória que conquistamos. Minha atuação foi importante no contexto. Marcar um dos melhores jogadores do planeta sempre será o maior desafio para um defensor. Atenção e respeito são indispensáveis. E, naquele dia, o Betis mostrou que está preparado e que podemos jogar de igual para igual, dentro ou fora de casa.
Na Espanha, você também jogou pelo Espanyol e La Coruña anteriormente. Deve ter enfrentado Messi e Cristiano Ronaldo inúmeras vezes. Como foram estes encontros?
Os jogos contra eles têm uma atmosfera diferente. O mundo está voltado para a partida. É preciso equilíbrio emocional e muita concentração para atuar contra atletas deste nível. Nestes momentos, sempre penso que jogar com ele a favor seria bem mais tranquilo, né? (risos). Mas, no fundo, é uma grande honra estar aqui e ter a oportunidade de disputar um dos principais campeonatos do mundo. Sempre sonhamos com isso na carreira e procuro desfrutar disso desde o primeiro momento que cheguei aqui. Que possamos fazer grandes jogos ainda contra eles. E, quem sabe, até com a camisa amarelinha (risos).
Quando você deixou o Inter, foi para o Benfica. O que mais te marcou no período em Portugal?
Foi o início da minha trajetória em terras estrangeiras. Foi muito importante a passagem pelo Benfica, pois tive meus primeiros contatos com o futebol internacional dentro de uma realidade bem diferente do Brasil. O glamour do espetáculo europeu transformam nossa vivência como atleta, e é neste momento que o jogador precisa compreender que faz parte de um contexto maior para não se perder no estrelato. Esse talvez seja um dos maiores conselhos que posso dar para a gurizada que desde cedo já está desembarcando em território europeu. É preciso paciência e foco no objetivo, pois, diferente do Brasil, nem sempre as coisas acontecerão do dia para a noite.
Você também jogou no Besiktas, da Turquia. Fala-se muito que a rivalidade turca é muito forte. Alguma história em relação a isso?
É sim. O povo de lá é muito identificado com seus clubes e essa rivalidade traz um charme especial para o futebol turco. A experiência por lá me fez lembrar bastante do Sul. Mas a rivalidade só é saudável quando não envolve a violência. A corneta, festa das torcidas e comemorações fazem parte do espetáculo e sempre nos motivam nos clássicos. Todos somos atores importantes desse mercado e sabemos que a responsabilidade está em todos. Cada um com sua função para que possamos apresentar ao mundo do futebol jogos memoráveis, marcados por grandes e respeitosos confrontos, dentro e fora de campos.
Já faz quase uma década que você deixou o Beira-Rio. O que mudou na sua maneira de jogar desde então?
Tanto no Brasil, quanto fora, o atleta está em constante transformação. Considero que tive uma base sólida que manteve a minha essência como profissional. No Exterior, você aprende que o respeito tático é fundamental para o coletivo. Entendo que cada personagem de uma partida tem uma função, mas precisa estar preparado para colaborar em diversas funções. Um zagueiro, primordialmente, precisa defender, mas também pode decidir uma partida. Precisamos ter este entendimento para compreender que a nossa atuação defensiva na bola aérea, por exemplo, também pode ser ofensiva, e que precisamos aprimorar cada fundamento, seja para segurar um resultado ou mesmo para decidir um jogo.
Nestes 10 anos fora do país, já deve ter recebido algumas sondagens para voltar ao Brasil. Aconteceu?
Sempre concentrei isso em meus representantes para focar somente no clube. É gratificante ser lembrado por gigantes do futebol brasileiro e ter a chance de voltar a jogar em casa. Me sinto muito à vontade por aqui, pois não é nada fácil a adaptação. Mas novas oportunidades serão ouvidas com muito carinho e ainda busco novos desafios na carreira que todo atleta almeja. E isso é um sinal de que o trabalho de campo está repercutindo bem. Isso já me deixa feliz e satisfeito.
Você já está com 29 anos de idade. Quais são seus planos para o futuro? Pretende encerrar a carreira aí na Europa ou planeja um retorno? Quem sabe até mesmo ao Inter?
O Internacional é um clube ao qual tenho muito carinho. Foi meu berço e sempre terá um espaço especial na minha trajetória. Não penso ainda em encerramento, não (risos). Pretendo jogar por uns bons anos, seja aqui na Europa, no Brasil, onde for melhor para mim. Me sinto bem e jogar é o que me satisfaz como profissional. Como um jogador experiente, procuro contribuir para o futebol de todas as formas, seja atuando, aconselhando atletas mais jovens, etc. Estar envolvido com a bola é o que escolhi para minha vida e agradeço a Deus por todas as conquistas em minha carreira. Espero colaborar ainda mais e da melhor maneira possível, pois somos peças-chave para a melhoria do futebol como um todo.
Segue acompanhando o Inter mesmo à distância? O que tem achado do momento atual do clube?
Sempre que posso, acompanho futebol. Tudo que é jogo. Os principais campeonatos do mundo e a nossa seleção. Gosto muito do que é nosso, de ver nossas revelações jogando e apresentando a magia do futebol brasileiro em campo, nosso maior patrimônio na bola. Como brasileiros, temos algo que nasce com a gente, uma habilidade e desenvoltura que é apaixonante. Precisamos resgatar isso para devolver ao Brasil a sua hegemonia no futebol. Acredito que estamos no caminho e que esta mescla da experiência com a juventude adotada pelo professor Tite poderá nos trazer grandes resultados.