O doutor Otávio Brasil, um toxicologista renomado, demonstrou, após trabalho percuciente e minucioso de muitos anos, que a benzoilecgonina é o metabólito resultante da ingestão de 250 plantas da família das eritroxiláceas. Assim, é desinformação absoluta acusar alguém do uso de cocaína se, na amostra de sua urina, for detectado esse metabólito.
Foi divulgado, na mídia, que o jogador Paolo Guerrero ingeriu benzoilecgonina. É a primeira vez, na história da humanidade, que alguém consegue a façanha de deglutir um metabólito. Mas a notícia hilariante transita como verdade para milhões de distraídos.
O que o mundo precisa saber é que a decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) não encontra respaldo em qualquer consideração que envolva rigor científico ou o mínimo equilíbrio conceitual. Para crucificar mais um atleta, sob a acusação de doping, sem prova consistente, utiliza-se uma distorção da deontologia, agravada pela duração da pena imposta, sem nenhum benefício ao fair play.
A inobservância de verdades biológicas (leis vitais) tem levado entidades esportivas a equívocos irreparáveis, um dos quais atingiu o atleta peruano. Consumada a invasão irrefletida do organismo de um ser humano, a ninguém é permitido retirar de seu âmago uma notícia falsa e infamante.
O hipotético infrator é jogado à execração pública e fica impedido de exercer o direito sagrado de trabalhar para garantir seu sustento. A ética médica, a ciência e a justiça, suportes soberanos da dignidade da nossa espécie, são jogadas no lixo surrealista da insensatez.
É quase inacreditável que, até hoje, nenhuma organização universal responsável pela defesa dos direitos humanos tenha sido acionada para a devida reparação do abuso de poder institucional contumaz.
Se os incansáveis defensores do atacante Paolo Guerrero, diante da sentença definitiva que irão enfrentar, obtiverem algum resultado, através de argumentos científicos contundentes, que podem exigir malabarismos verbais, entrarão para a história e talvez salvem do descontrole punitivo algumas dezenas de próximas vítimas.