Amigo azul que leu o título e já quer xingar: pode pular a parte romântica de retórica. Vai direto para o subtítulo "Números no Brasileirão 2018". Está tudo bem explicadinho ali. #PAS
Corria o ano de 1979, e o mais incrível escrete que o futebol brasileiro já produziu chegava invicto à São Paulo para disputar com o Palmeiras a semifinal do Brasileirão. A manchete do Jornal da Tarde paulista na quarta-feira, véspera da partida, berrava, em letras garrafais: "MOCOCA OU FALCÃO?". Era uma tentativa de comparação entre o maior camisa 5 da história do Planeta Terra e este Mococa, como se a partida do dia seguinte fosse decidir quem era melhor. Pois ficou bastante claro.
O Inter venceu o jogo em São Paulo por 3 a 2, Falcão teve uma das melhores atuações da sua carreira - e olha que isso não é pouca coisa -, e o Jornal da Tarde da sexta-feira foi impresso com a seguinte (e histórica) conclusão em fonte gigantesca: "FALCÃO, É CLARO!".
Evidentemente que não há comparação alguma de grandeza entre Paulo Roberto Falcão e Victor Cuesta. Ninguém seria maluco a esse ponto. A referência à história do nosso ano invicto fica apenas no campo da "conclusão óbvia". O colega Cléber Grabauska levantou nesta semana a pergunta: quem está jogando melhor, Cuesta ou Kannemann? A resposta é fácil, rápida, evidente e gritante:
Cuesta, é claro!
Canto esta pedra desde 2017. Em algum momento entre vencer o Zamora da Venezuela e o Deportivo Iquique do Chile, a torcida gremista tomou para si o conceito de "melhor zaga do Brasil". Depois de superar o Barcelona do Equador e o pobrezinho do Lanús, a conclusão da torcida azul era "Geromel e Kannemann = melhor zaga do planeta terra!". Naquele momento, escrevi neste espaço o que era claro: a zaga azul não é nem a melhor de Porto Alegre.
Klaus e Cuesta, em 2017, eram a melhor dupla de zaga do Brasil. A melhor na equação desafio apresentado x resultado atingido. O Inter, antes de Klaus e Cuesta, era um time candidato à rebaixamento para a Série C. O Inter com Klaus e Cuesta subiu de divisão com rodadas de antecedência. A dupla pegou o Pior Inter de Todos os Tempos e o fez atingir consistência defensiva. Mais do que isso: ambos marcaram gols importantes na campanha colorada, sendo responsáveis diretos por vitórias, viradas e pontos na tabela.
Enquanto isso, os comentaristas de redes sociais que rebatiam a minha tese falavam insistentemente da Libertadores. Ora, Kannemann e Geromel nascem, enquanto dupla, naquele que é o Melhor Time de Futebol da História do Continente Sulamericano (ou pelo menos era isso o que nos faziam acreditar). Pegar um time ajeitadinho e não fracassar é tarefa possível para qualquer jogador médio - e, a cada dia que passa, vemos que este é o caso do argentino Walter.
Agora que disputam o mesmo Campeonato Brasileiro da Série A, fica ainda mais fácil de ver o quanto Cuesta é mais jogador. Sem Geromel (que é realmente um fora de série indiscutível), o argentino Walter é só o argentino Walter. Cuesta é mais jogador em absolutamente todos os quesitos técnicos em que um jogador pode ser superior a outro.
Falando especificamente das atribuições de um zagueiro de futebol, o nosso argentino vence por larga margem. Cuesta se posiciona melhor, desarma mais, divide melhor, bloqueia mais chutes e intercepta mais jogadas adversárias. Duvida?
Números no Brasileirão 2018 (fonte: Footstats):
Desarmes
Victor Cuesta - 23 (média de 2.6/jogo)
Argentino Walter - 15 (média de 1.9/jogo)
Bloqueios
Victor Cuesta - 8 (média de 0.9/jogo)
Argentino Walter - 5 (média de 0.5/jogo)
Interceptações
Victor Cuesta - 5 (média de 0.6/jogo)
Argentino Walter - 3 (média de 0.4/jogo)
Assistências (sim, assistências!)
Victor Cuesta - 1
Argentino Walter - 0
Quando o que já era sensação clara após a análise das partidas vira fato comprovado através de números e estatísticas, não há outra conclusão possível. É evidente, é claro, é comprovado e fácil de ver que Victor Cuesta é melhor do que aquele que sem a sua duplinha ideal (e absurdamente competente) acaba sendo apenas o argentino Walter.
Em 2018, assim como em 1979, há comparações completamente descabidas, despropositadas e com um único resultado lógico possível.