O Grêmio chegou a Recife preparado para encarar uma nova batalha. Enquanto jogadores e comissão técnica ainda estavam nos primeiros passos da preparação para enfrentar o Náutico, a direção já estava trabalhando nos bastidores em Porto Alegre. Após as cenas de violência nos minutos finais entre Sport e Vasco, contatos telefônicos e trocas de mensagens entre as direções gremistas e a do rival pernambucano combinaram o veto a qualquer menção pública da possibilidade de uma nova Batalha dos Aflitos.
O Grêmio também passou a receber atualizações sobre a situação dos estádios. O desejo da equipe gaúcha era de que a partida fosse disputada na Arena Pernambuco, mas uma briga antiga entre Náutico e a gestora do estádio dificultou. Uma diferença de R$ 40 mil surgiu nas conversas no valor do aluguel. O Grêmio aceitaria pagar esse valor, mas não foi solicitado.
O Arruda virou o estádio escolhido pela Federação Pernambucana de Futebol, mas uma torcida organizada do Santa Cruz promoveria um evento no local. Por isso a partida voltou para o Aflitos, apesar das tentativas de evitar repetir o palco de 2005.
O clima de tensão ficou evidente nas conversas informais com membros da delegação. Mas na noite de sexta-feira (21), o primeiro dia do Grêmio na cidade começou a tomar o rumo favorável. O Náutico acabou rebaixado sem entrar em campo, o que tiraria peso do confronto.
Na manhã de sábado (22), o treino no Arruda mostrou como seria temerário a ida do jogo para o estádio. O campo tinha condições aceitáveis, mas a estrutura do local é bastante precária.
— E queriam que a gente jogasse lá — comentou um jogador à GZH, no retorno da delegação ao hotel do clube.
O que era receio, virou confiança naquela tarde. A chave virou de vez com os resultados paralelos da rodada da tarde de sábado. As viradas do Londrina sobre o Sport e do Vasco sobre o Criciúma serviram como uma injeção de confiança no ambiente. Nem mesmo o péssimo aproveitamento como visitante preocupava mais.
— Não tem como a gente não ganhar deles amanhã (domingo) — disse um membro da delegação.
A manhã da partida começou como todos os outros dias do Grêmio na viagem a Recife e sem nenhum assédio de torcedores em busca de fotos. Renato Portaluppi cumpriu sua rotina de dia de jogo. Pediu uma sopa, um café com leite e almoçou no seu quarto da concentração. O técnico protagonizou o único momento de maior tensão da viagem. As críticas disparadas aos dirigentes que comandaram o departamento de futebol e outros membros da gestão nos últimos dois anos destoou do clima de alívio entre os demais presentes no vestiário. A irritação de Renato foi exposta em sua coletiva improvisada na porta do vestiário.
O alvo da fúria do técnico era o trabalho feito por ex-dirigentes do departamento de futebol, mas também respingou em pessoas que ocupam cargos chave dentro do clube e que buscavam protagonismo internamente na época da conquista dos títulos. Mas que teriam sumido do dia a dia do futebol após a queda para a Série B.
Na volta à concentração, com a vaga confirmada após a vitória, a comemoração do grupo foi discreta. Os membros da delegação dividiram 200 cervejas, o que causou falta de baldes de gelo para o restante dos hóspedes. Sem Alexandre Mendes, Diego Souza e Renato Portaluppi, que viajaram após o jogo para o Rio de Janeiro, a janta foi oferecida aos jogadores e restante da comissão técnica. Mas boa parte dos atletas ficou apenas alguns minutos na celebração organizada pelo clube e aproveitou a folga para deixar o hotel e jantar em Recife.
A saída nas primeiras horas desta segunda-feira (24) para a viagem ao Rio de Janeiro teve muitos olhos vermelhos, a maioria com garrafas de água na mão, e sorrisos sem discrição até o embarque no ônibus que levou a delegação ao aeroporto.
— Agora acabou a pressão — comentou um dos membros do departamento de futebol ao embarcar no ônibus.