Lucas Leiva cumpriu sua promessa. Antes do jogo no Estádio dos Aflitos, avisou a amigos que marcaria um gol na vitória que devolveria o Grêmio à Primeira Divisão. Único do atual elenco em campo a ter vivido a batalha de 2005, o volante voltou a festejar o retorno à elite novamente contra o Náutico, em Recife. Desta vez, com goleada por 3 a 0, de forma bem mais tranquila do que naquela histórica tarde de 26 de novembro.
— Fé é acreditar em algo que a gente não vê. Mentalizei que uma coisa positiva iria acontecer e deu certo — disse Lucas.
Se o acesso veio em jogo tranquilo, a campanha de 2022 teve momentos de aflição. Lucas Leiva chegou em meio à disputa, mas viveu boa parte do martírio que durou 36 rodadas – o alívio na Série B chegou duas rodadas antes do final da competição. Com sete pontos acima do quinto colocado, não poderá mais ser alcançado, já que restam apenas duas rodadas.
A goleada do Grêmio por 3 a 0 sobre o Náutico lembrou muito da jornada da equipe ao longo da competição. Da tensão dos minutos finais da partida, quando os donos da casa ameaçaram o gol de Brenno, ao êxtase da festa em frente ao torcedor. Os gremistas encheram o espaço reservado na arquibancada em frente da goleira onde Anderson fez o gol que contrariou as probabilidades e o título da Série B de 2005.
A festa este ano foi muito mais discreta do que a de 2005. Os abraços em campo entre jogadores foi o momento de maior manifestação de alegria publicamente. Por conta dos riscos de segurança alertados pela direção do Náutico, a comemoração foi rápida no campo e contou com a intimidade do vestiário nos Aflitos para ter seu ápice. O pagode tocava alto no local nas caixas de som montadas pela equipe de apoio do clube, mas não o suficiente para abafar os cumprimentos e os gritos de alegria.
Mas depois do momento entre os jogadores e comissão técnica, o discurso foi em um tom mais sóbrio. Renato Portaluppi resumiu a situação de forma simples:
— Não fizemos nada mais do que nossa obrigação — disse o técnico.
Muito mais emocionado, o presidente Romildo Bolzan Junior desabafou com a situação. O dirigente entrou no gramado dos Aflitos após o apito final e segurou as lágrimas ao dar depoimento ao repórter José Alberto Andrade na Rádio Gaúcha.
— Voltamos. Cumprida a missão e nossa obrigação. Honramos a camisa do Grêmio. É uma satisfação de reviver. Temos que admitir os nossos erros. Lembrem de mim pelos meus erros, mas também meus acertos. Peço desculpas, mas também lembro que os acertos aconteceram. Estou aliviado.
Em sua rápida entrevista coletiva, Renato mandou um alerta para os candidatos à presidência do Grêmio nas eleições de novembro:
— O Grêmio é muito grande para estar na Série B, espero que nunca mais se repita. Precisamos botar as pessoas certas nos lugares certos. A conta chega quando não se faz isso. Quando a conta chega, sempre tem de trazer um otário para apagar a luz, se quer trabalhar com futebol, tem de se entender de futebol. Vivemos de torcida, não merecem sofrer, estão acostumados de títulos...
O Grêmio estendeu a comemoração ao jantar no hotel que abriga a delegação em Recife. Mas também nada de exageros na comemoração privada. O grupo viaja nesta segunda-feira pela manhã ao Rio de Janeiro. Na sexta-feira, enfrenta o Tombense, em Minas. No dia 6 de novembro, encerra o ano recebendo o Brusque.