As coincidências da vida colocaram o Grêmio diante de um cenário semelhante ao que viveu em 26 de novembro de 2005. Recife, Estádio dos Aflitos, Náutico e a necessidade do acesso à Série A. Desta vez, mesmo contra um adversário já rebaixado, desmobilizado e um estádio reformado sem aqueles quase 30 mil da torcida rival, a aflição dos gremistas era a mesma.
Para Rodrigo José Galatto, porém, o sofrimento foi menor. Quase 17 anos depois, o herói da Batalha dos Aflitos não tinha mais dois pênaltis contra sua meta e nem precisava defender o futuro gremista com apenas mais seis jogadores de linha por alguns intermináveis minutos.
— Melhor estar aqui ou lá, Galatto? — questiona a reportagem de GZH.
— Eu queria ter ido. Já joguei outras vezes lá, mas dessa vez seria diferente. E eu não me canso de falar da Batalha. Só não pode ter pênalti (risos).
Na RGM Academy, seu centro de formação de atletas, em Gravataí, o ex-goleiro tricolor, agora com 39 anos, acompanhou o jogo junto da filha Lívia, de sete anos. Ela ainda não era nascida em 2005, mas sabe bem da história.
— Eu vi na TV. O pai pega o pênalti e o narrador grita: Galatto! Galatto! — recordou Lívia.
Os primeiros 20 minutos foram de uma certa angústia para o agora apenas torcedor, já que o Grêmio demorou para se encontrar no jogo. Mesmo sem mais ambições na Série B, o Timbu ameaçou a meta de Brenno em três oportunidades.
— Nós temos a melhor dupla de zaga do país, caras experientes para administrar essa ansiedade. O Lucas, que tava na Batalha, também. Mas não chutamos nenhuma bola no gol, né? — comentou.
Quando Leonardo Gomes chuta de esquerda, o goleiro espalma e Bitello abre o placar, aos 26 minutos, Galatto se tranquilizou:
— Vamos! Agora vai! Abriu a porteira! Isso é o futebol. Não tinha lance nenhum, agora saiu o gol.
O jogo transcorreu com normalidade. Após o gol, o Grêmio administrou o resultado e teve outras duas chances no primeiro tempo para ampliar, porém acabou desperdiçando. No retorno para a segundo tempo, foi até a vez do time pernambucano ter um jogador expulso. Sem aflição de outrora, a "porteira" citada pelo ex-goleiro de fato abriu e o placar se dilatou.
— Boa, Alemão! Ele foi o único que foi me cumprimentar quando eu defendi o pênalti. Mas eu só dizia para ele: olha o escanteio! Muito bom um gol dele — vibrou Galatto, quando o VAR comunicou ao árbitro que a condição de Lucas Leiva era legal e validou o segundo gol.
O 3 a 0, de novo com Bitello, veio em seguida. Renato renovou a energia do time com substituições e o Tricolor seguiu no ataque. Galatto seguiu torcendo, na esperança de que o quarto gol fosse de Diego Souza, quem ele considera o destaque gremista na competição.
O final da partida foi de alegria, porém sem tanta euforia. Como era nos tempos de goleiro, mesmo com um pênalti que poderia deixar o time mais uma vez na Série B, Galatto vibrou com o retorno tricolor à Série A:
— Deu, tchau, Série B! O clima ajudou. Estádio vazio, não teve vestiário pequeno, buzina, cheiro forte de tinta. A combinação para não subir seria muito difícil. Mas é incrível. Eu olhei a tabela e vi que o jogo lá seria no final do campeonato. Tudo de novo, contra o Náutico, nos Aflitos. Agora é olhar a Série A e ver o Grêmio de novo.