Dez minutos antes do início de Grêmio x Cerro Porteño, uma mulher de 28 anos subia a esplanada da Arena quando um grupo de torcedores interrompeu o caminho. Enquanto era assediada verbalmente por quatro homens, um deles passou a mão em sua bunda. Pela leitura fria da lei, um estupro.
Violada, a vítima recebeu apoio irrestrito de familiares e amigos que a seguiam de longe. Gente ciente de que uma atitude tolerada em silêncio durante anos não pode mais ser aceita em ambiente algum.
Iniciou-se uma busca pelo agressor. Por coincidência, estava sentado a poucos metros do grupo. Com a ajuda de coordenadores da torcida, o homem, de 30 anos, foi levado pela Brigada Militar à delegacia instalada no interior do estádio.
Segundo agentes da Polícia Civil que atuam desde a inauguração da Arena, há mais de cinco anos, foi o primeiro registro de assédio sexual no complexo. Mas a delegada Sabrina Dóris Teixeira, responsável pela unidade, sabe que não foi o primeiro ocorrido — há dificuldade das vítimas em denunciar, reviver a violação.
— É inadmissível. Serve também como educativo para que outras condutas semelhantes não ocorram — disse Sabrina.
Ávida em encerrar logo o trauma, a vítima registrou a ocorrência como importunação sensível ao pudor. Os gremistas já celebravam o 5 a 0 sobre os paraguaios e uma audiência começava no Juizado Especial Criminal (Jecrim), dentro do estádio.
Diante da possibilidade prevista na lei, abriu-se uma transação penal, um benefício concedido a pessoas sem antecedentes criminais em casos de crimes de menor potencial ofensivo. Às 22h, saía a "pena": o afastamento pelos próximos 12 jogos do Grêmio, independentemente do mando de campo. A cada nova partida do Tricolor, o homem, morador de Marau, terá de se apresentar à delegacia mais próxima.
— Nos dói muito esse tipo de situação, não só pela circunstância pessoal, mas também pelo contexto. Entendemos o estádio como um espaço de convivência pacífica — pontuou o promotor Márcio Bressani, da Promotoria do Torcedor.
Graças à coragem da vítima, ao apoio de familiares e à estrutura estatal armada no interior do Arena, o desfecho foi praticamente instantâneo. Denunciar é preciso. Vocês sabem, lugar de mulher é onde ela quiser.