Eu sou um cara pessimista. Nunca vi isso como motivo de orgulho, mas sempre achei importante deixar claro para as pessoas que convivem comigo. É chato ter alguém puxando o freio do otimismo quando todos já estão sufocados pelo próprio entusiasmo. Ninguém quer ouvir que, no fim, é bem possível que seu maior sonho transforme-se em um grande e doloroso trauma.
No futebol, meu pessimismo muitas vezes me custou o título de gremista. Virei, no lugar disso, amargo, advogado do rival. Ou, como carinhosamente já me chamaram alguns leitores da coluna, membro da IVI (Imprensa Vermelha Isenta) e justino — algo que eu ainda não sei se entendi o significado. A verdade é que me acostumei a esperar sempre pelo pior. Um gol perdido, um apagão depois dos 20 do segundo tempo, um goleiro saindo mal, um zagueiro mal posicionado. Enquanto o estádio gritava olé para uma vitória por 5 a 0, eu pedia calma. “Muita coisa pode acontecer em três minutos”.
Como cura para o meu pessimismo, aprendi a ler os muitos sinais que a vida nos dá. Hoje, sei antes da maioria quando é hora de liberar o Monstro da Euforia e quando é preciso cobrir os ouvidos para o que dizem as mesas redondas de segunda-feira e permanecer em silêncio. Interpretar as pistas que o universo nos dá é um exercício complicado. Requer estudo, paciência e, acima de tudo, vocação.
Das muitas coisas que levei da faculdade de jornalismo, uma das que mais aprecio é a minha relação com o professor Fabio Canatta. Um dos gremistas mais esperançosos que já conheci, Canatta também é um homem capaz de compreender os acontecimentos ao nosso redor e ver antecipadamente onde eles nos levarão. Em 2016, quando poucos acreditavam que fosse possível sair da fila, ele não teve medo de organizar o evento que pretendia ser a maior Goethe da história. O que para muitos soava como loucura e fanatismo, para o Canatta era apenas o óbvio. Ele sabia, afinal de contas.
No último domingo, assisti ao amistoso entre Grêmio e Palmeiras ao lado do Canatta. Enquanto o estádio enlouquecia a cada trapalhada de Jael, Canatta não movia um músculo. No terceiro gol do Palmeiras, quando a primeira leva de torcedores resolveu deixar a Arena, Canatta pareceu não ligar. Se saíssem mais três gols, seu semblante permaneceria o mesmo - o de um homem que sabe o que está por vir. Com meu caderninho de anotações e cálculos sobre a vida, resolvi provocá-lo.
— O Grêmio está ganhando a Libertadores hoje.
Canatta me olhou e sorriu. Ele já sabia, e agora eu também sei. Estejam avisados.