Quem disser que o povo australiano não gosta de futebol é porque certamente não esteve no Lang Park, nesta quinta (28), na derrota por 3 a 2 da Austrália para a Nigéria, pela Copa do Mundo Feminina.
A torcida em Brisbane colocou 55 mil pessoas no estádio e vibrou intensamente não apenas com os gols, mas até com cada escanteio. Ao final, a frustração com o resultado, que deixa as Matildas com risco real de serem eliminadas do Mundial em plena fase de grupos, não estragou o clima de festa.
— Sofremos com as lesões e com as táticas erradas do treinador. Saio frustrada, mas ao mesmo tempo feliz com a oportunidade de ver a nossa seleção jogando em casa — contou a GZH após o jogo a torcedora australiana Nikola Stevenson, 40 anos.
O primeiro fato que chama atenção em um jogo das Matildas, como são conhecidas a meninas da seleção australiana, é a presença de famílias nas arquibancadas. Nos lances de perigo, o tom de voz que ecoava nas arquibancadas escancarava a quantidade de mulheres e crianças presentes. E o clima era de apoio incondicional, sem vaias, apupos ou resmungos. Nem para os erros das jogadoras e nem sequer para a árbitra.
Para australianos e austalianas, futebol é acima de tudo um programa de entretenimento. Nas cobranças de escanteio, os torcedores que ficam mais próximos do campo vibram como se fosse um gol, apenas pela oportunidade de ver as atletas mais de perto. E batem palmas por tudo. Qualquer lance acertado pelas jogadoras é digno de muitos aplausos. E os três gols da Nigéria, apesar de frustrantes, não estragaram a festa.
— Claro que o resultado foi triste, mas foi incrível ver as meninas das Matildas de perto no estádio. É uma atmosfera sensacional. Fiquei muito feliz com o gol no final. Foi demais — disse a torcedora Rachel Elamore, 31 anos.
Essa cena ao final do jogo ilustra muito a forma dos australianos de torcer. O jogo já estava perdido. A Nigéria vencia por 3 a 1 e os 11 minutos de acréscimo dados pela arbitragem já estavam perto do fim.
Porém, o gol de honra marcado por Alana Kennedy aos 54 minutos do segundo tempo fez o estádio vir abaixo. Parecia que era o gol da virada, embora não fizesse diferença alguma no placar. Porém, a experiência de vibrar com um gol das Matildas in loco valia mais.
— Claro que estou frustrada com o resultado. Esperava a vitória. Mas também estou feliz pela oportunidade de ter visto esse jogo. Foi uma grande atmosfera — conta a torcedora Chelsea Handasyde, 39 anos.
Nos jogos da Austrália, os bares funcionam a pleno vapor durante o jogo inteiro e não só no intervalo. Em meio à bola rolando, vários torcedores deixam as arquibancadas para buscar lanches, refrigerantes e cerveja. Afinal, para eles, o futebol é acima de tudo uma experiência de entretenimento e não 90 minutos de "vida ou morte".
No primeiro tempo, a Austrália dominou amplamente o jogo. Parecia um jogo de ataque contra defesa. Talvez o justo até fosse uma goleada das Matildas já na etapa inicial. O primeiro gol, porém, foi sair apenas aos 45 do primeiro tempo, com Emily van Egmond. Contudo, a frase eternizada no Brasil por Muricy Ramalho, de que "a bola pune", pelo visto é aplicável em todos os continentes. Aos 48, a Nigéria empatou com Uchenna Kanu.
A Austrália foi para o intervalo sentindo o golpe. No segundo tempo, as Matildas diminuíram o ritmo, se desorganizaram e cederam espaços, que foram aproveitados por Asisat Ochoala e Osinachi Ohale, que fizeram Nigéria 3 a 1. A reação australiana com Allana Kennedy foi muito tarde, nos acréscimos, insuficiente para mudar o placar do jogo, embora o bastante para agitar as arquibancadas.
A alegria dos australianos e australianas com o gol no fim e com a oportunidade de ver a seleção local de perto só não foi maior que a dos nigerianos. Minoria no estádio, os torcedores africanos deixaram o Lang Park em êxtase, cantando e celebrando com danças típicas do pais.
Com o resultado, tanto Australia quanto Nigéria dependem apenas de si para conquistarem a classificação na próxima fase. A diferença é que as australianas enfrentarão na última rodada do Grupo B o tradicional time do Canadá, enquanto as nigerianas pegarão a lanterna do grupo, a Irlanda, precisando apenas de uma vitória simples para avançar às oitavas de final.
— Sério, eu estou muito feliz. Que vitória. Eu sempre acreditei nas nossas jovens. Confio nelas, elas não param. Com esse futebol, estou confiante de que vamos ganhar a Copa do Mundo. Pode anotar aí — disse a GZH Emeka Anazodo, 38 anos, torcedor nigeriano que mora em Brisbane.
Acima de tudo, foi uma grande festa do futebol.