O Brasil é um jogral de sotaques. Quando a Seleção Brasileira se reúne não é diferente. Jogadores nascidos em variadas regiões do país se unem para vestir a amarelinha. Na campanha do Penta, em 2002, Luiz Felipe Scolari convocou atletas de sete Estados diferentes e mais dois do Distrito Federal. Ronaldinho e Anderson Polga eram os representantes gaúchos.
Os dois tiveram papéis diferentes na campanha brasileira. Ronaldinho foi protagonista, enquanto Polga um coadjuvante. Eles se juntaram a Oreco (1958), Everaldo (1970) e Taffarel, Branco, Dunga e Gilmar Rinaldi (1994) como jogadores nascidos no Rio Grande do Sul a terem vencido a Copa do Mundo.
Felipão ainda contou com oito jogadores oriundos de São Paulo, quatro baianos, três paranaenses, dois mineiros, um pernambucano, outro nascido do Rio de Janeiro e dois do Distrito Federal.
Nesta quinta-feira (30), comemoram-se os 20 anos do Penta. Desde sexta-feira (24), GZH publica uma série de conteúdos especiais que contam a trajetória do time brasileiro rumo à apoteose do futebol mundial. Hoje, conheça a história dos gaúchos que fizeram história em 2002.
Ronaldinho, amado e odiado
Ronaldinho era parte integrante dos três Rs, ao lado de Ronaldo e Rivaldo. A presença no distinto trio de ataque comprova as expectativas elevadas sobre ele durante a Copa do Mundo. Outro ponto que reforça o seu tamanho é seu surgimento ter feito Ronaldinho virar Ronaldo.
Embora fosse colocado no mesmo apelido que os companheiros de setor ofensivo, o gaúcho estava um degrau abaixo deles. Enquanto os outros dois Rs já tinham sido eleitos como melhores do mundo, o irmão de Assis ainda estava por viver os melhores anos da carreira. A Copa da Coreia e do Japão foi o início de seu auge.
Ronaldinho ainda era jogador do PSG, então um clube de menor grife, mas desde 1999, quando estreou na Seleção, tinha caído no gosto do torcedor brasileiro pelos seus dribles e seu controle de bola. Só não era unanimidade devido ao torcedor gremista, ainda bronqueado pelo modo como deixou o clube em direção a Paris. Um detalhe para o torcedor brasileiro, uma traição imortal para os gremistas.
O camisa 11 de Felipão disputou cinco partidas na campanha do Penta. Pendurado, ficou de fora da goleada por 5 a 2 sobre a Costa Rica e, suspenso, não jogou a semifinal contra a Turquia devido à expulsão diante da Inglaterra.
Mesmo que tenha recebido o cartão vermelho contra os ingleses, teve participação vital na classificação. A exclusão do jogo, aos 12 minutos do segundo tempo, aconteceu apenas oito minutos após ter feito um gol que ficará gravado na memória dos Mundiais. A falta lateral tinha tudo para ser um cruzamento, mas foi um chute que encobriu o goleiro David Seaman, sacramentando a virada brasileira por 2 a 1. Antes, no 4 a 0 sobre a China, tinha marcado, de pênalti, pela primeira vez em Copas.
Depois do Penta, jogou mais um ano no PSG para, depois, fazer história no Barcelona. Foi eleito o melhor do Mundo. Fracassou em 2010 na África do Sul, defendeu o Milan, esteve perto de voltar ao Grêmio, preferiu ir para o Flamengo, foi campeão da América pelo Atlético-MG, foi ao México vestir a camisa do Querétaro e sua magia deixou os gramados em 2015, quando estava no Fluminense.
Anderson Polga, o discreto
No futebol, muitas vezes é preciso estar no lugar certo, na hora certa e no esquema certo. É o caso de Anderson Polga, natural de Santiago. Multifuncional, Polga foi componente importante do esquema com três zagueiros de Tite no Grêmio. O defensor podia atuar nas três posições da última linha do time e também jogar como volante. O crescimento gremista no período pré-Copa e a escolha de Felipão pelo sistema 3-5-2 convergiram para que o jogador gremista fosse chamado para a Copa de 2002.
A primeira convocação foi para os amistosos diante de Bolívia e Arábia Saudita, no fim de janeiro e início de fevereiro de 2002, respectivamente. A partida que selou a presença dele entre os 23 convocados foi no 6 a 1 sobre a Islândia, em março daquele ano. Em uma convocação apenas com atletas que atuavam no Brasil, Scolari optou por dar espaço para jogadores que ainda não estavam garantidos no Mundial. Polga foi o capitão do time no 6 a 1, em Cuiabá. Dois dos gols da goleada foram dele.
Quando a lista de convocados foi divulgada, o nome de Polga era uma certeza não só no grupo de jogadores que viajaria para Ásia, mas imaginava-se, naquele momento, ele começaria o torneio como titular.
A projeção não se confirmou. Luiz Felipe formou o trio defensivo com Lúcio, Edmílson e Roque Júnior. Polga foi titular em dois jogos na primeira fase, contra Costa Rica e China. Na sequência, com a estabilização da retaguarda da Seleção Brasileira, assistiu à Copa do banco de reservas.
Depois do Mundial, disputou somente mais três partidas pelo Brasil. Deixou o Olímpico para defender o Sporting entre 2003 e 2012. Encerrou a carreira no Corinthians, em 2012, aos 33 anos.
A comissão técnica
Os comandantes por trás do Penta gostam de sorver um chimarrão. Nascido em Passo Fundo, Luiz Felipe Scolari foi um zagueiro ao melhor estilo gaúcho. Sem medo de colocar a bola para o mato e distribuir alguns pontapés, jogou por Caxias, Juventude, Novo Hamburgo e CSA, onde iniciou a carreira como técnico 30 anos antes do Penta.
Ganhou destaque no cenário nacional ao levar o Criciúma ao título da Copa do Brasil de 1991, superando o Grêmio na final. Foi no Tricolor que consolidou sua posição entre os principais técnicos do país. Foram seis títulos entre 1994 e 1996, entre eles uma Libertadores, taça também levantada com o Palmeiras em 1999.
Quando foi chamado para apagar o fogo na Seleção Brasileira, desenvolvia um trabalho vitorioso no Cruzeiro. Com sofrimento, classificou o time para a Copa. Depois do Penta, trabalhou por seis anos com Portugal. Em seguida, uma breve passagem pelo Chelsea. Desde 2009, entre outros trabalhos, retornou a todos os lugares aonde foi feliz.
Foram duas passagens pelo Grêmio. Outras duas pelo Palmeiras. E uma pela Cruzeiro. Aos 73 anos, é técnico do Atlhetico-PR.
Seu fiel escudeiro até 2017 foi Flávio Teixeira, o Murtosa. Ex-ponteiro, ele iniciou a parceria com Felipão em 1983, no Brasi-Pel. Alheio aos holofotes, esteve ao lado do treinador nas principais conquistas de Felipão.
Os agregados
A delegação que esteve na Coreia e no Japão contou com dois gaúchos emprestados. Profissional com forte vínculo com Felipão à época, o preparador físico Paulo Paixão tinha naquele momento uma relação consistente com o Grêmio. Além de ter trabalhado no período vitorioso dos anos 1990, o profissional estava vinculado ao clube em 2002. Foi um dos responsáveis por trazer Luizão ao Tricolor, onde o centroavante atuou no primeiro semestre do ano do Penta e se recuperou de lesão.
Pelo lado colorado, a maior conexão era com o zagueiro Lúcio. Trazido do Guará em 1997, jogou no Inter até 2000, quando foi vendido ao Bayer Leverkusen. Pelo clube gaúcho, venceu um Gauchão e uma Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Outro gaúcho que fez parte da comissão técnica foi o preparador físico Darlan Schneider, sobrinho de Felipão.