Na véspera da estreia na Copa de 2022, o braço de Emerson, que esperava para receber a braçadeira de capitão, estava imobilizado e apoiado em uma tipoia. As chances de entrar para a história como o quinto brasileiro a erguer a taça de campeão do mundo terminaram horas antes do jogo contra a Turquia.
Um dos momentos mais importantes da campanha brasileira na Copa da Coreia e do Japão foi o corte do volante revelado pelo Grêmio. Para comemorar o aniversário de 20 anos do Penta, GZH publicará entre sexta-feira (24) e quinta-feira (30) uma série de conteúdos especiais sobre o quinto título da Seleção Brasileira. Hoje, conheça um pouco como Luiz Felipe Scolari e o elenco da Seleção Brasileira lidaram com a perda do seu capitão um dia antes do primeiro jogo do Mundial.
General sem capitão
O corte de Emerson deu sequência a uma série de problemas de última hora enfrentados nos Mundiais anteriores. Em 1994, os zagueiros Mozer e Ricardo Gomes saíram, por lesão, da lista de jogadores de Carlos Alberto Parreira. Quatro anos depois, foi a vez de Romário deixar a lista de inscritos. Então meio-campista do Bayer Leverkusen, Emerson precisou passar às pressas no alfaiate para fazer um terno sob medida para se apresentar a Zagallo na França.
Quatro anos depois, era ele quem deixaria de fazer parte da delegação brasileira. Em uma prosaica atividade recreativa na Coreia do Sul, um dia antes do jogo contra a Turquia, o volante foi brincar no gol. Ao defender um chute de Rivaldo, caiu de mau jeito sobre o ombro direito. A princípio, a situação não parecia preocupar, como mostra a sequência de fotos abaixo. Após a defesa, Vampeta parece estar despreocupado, enquanto Emerson sente dores.
A lesão não foi tão simples. A articulação saiu do lugar e a previsão era de que a recuperação duraria quatro semanas. Homem de confiança de Felipão, seu comandante no início da carreira no Grêmio, Emerson ficou sentido pela opção da comissão técnica de desconvocá-lo da Copa do Mundo.
— Eu era o capitão do Felipão, mas ele me tratou como um qualquer. Não me informou sobre o corte nem fez força para me manter na delegação. Nunca mais falei com ele depois daquilo — declarou em entrevista à ZH antes da Copa de 2014.
Solução dos problemas
Felipão tinha três problemas para resolver e pouco tempo para achar as soluções. Precisava escolher um substituo para a estreia, definir um novo capitão e convocar mais um jogador para fechar o elenco. Nenhum delas tinha uma resolução simples.
O camisa 7 era peça importante no sistema de Scolari. O vigor de Emerson permitia que o time joga-se do meio para frente com Juninho Paulista, Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo, além dos alas Cafu e Roberto Carlos. O escolhido foi Gilberto Silva, um jogador de menor raio de ação, o que fragilizou a faixa central do time. A questão foi solucionada mais adiante, quando Kléberson assumiu a titularidade, dando maior equilíbrio ao setor.
A escolha para ocupar a vaga de Emerson no elenco surpreendeu. Ricardinho, meia do Corinthians, era quase o oposto do antigo dono da camisa 7. O primeiro era volante com larga experiência no futebol europeu e estava indo para sua segunda Copa, além de ser conhecido de anos do treinador. Meia, Ricardinho teve apenas uma efêmera passagem pelo Bordeaux e computava cinco jogos pela Seleção, nenhum deles sob o comando de Felipão. O então jogador do Corinthians desembarcou na Coreia do Sul dois dias após a vitória por 2 a 1 sobre os turcos.
Sobre qual braço depositar a braçadeira era a última decisão a ser tomada. A intenção era ter Roque Júnior, comandado do treinador dos tempos de Palmeiras, como capitão. Embora seja personalista, Felipão consultou os jogadores. O desejo do grupo era que a faixa repousasse no braço direito de Cafu.
— Superamos o problema do Emerson com a concordância e a boa vontade dos outros atletas que, quando solicitados para me ajudar a me ajudar no encaminhamento, assim o fizeram — explicou o técnico à época.
Antes de deixar a Ásia, Emerson e Cafu tiveram uma longa conversa. Foram cerca de 40 minutos em que os dois dialogaram sobre diversos assuntos relacionados à Copa do Mundo.
Quando a bola rolou para o jogo contra a Turquia, Cafu iniciou o seu ciclo como capitão justo na partida em que se igualou a Taffarel como o jogador com mais jogos pela Seleção — 114 partidas. A faixa virou um prolongamento do corpo do lateral devido ao longo período em que ficou como capitão. Marcos Evangelista de Moraes aposentou a amarelinha e a braçadeira quando chegou ao jogo de número 150 pelo Brasil.
Mas nada foi mais importante que tê-la junto ao braço naquele 30 de junho de 2002, dia em que ele se juntou a Mauro, Bellini, Carlos Alberto e Dunga como os capitães campeões mundiais pelo Brasil.