Foram divulgados nesta quarta-feira (4) os resultados do relatório Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) 2023, que traz dados sobre o desempenho de estudantes de 4º e 8º ano em matemática e ciências. Conforme o levantamento, que avaliou crianças de cerca de 70 países, o Brasil está entre os últimos colocados nas categorias que medem a performance dos alunos nas disciplinas.
O país registrou médias de desempenho inferiores à média internacional. A pontuação do Brasil em matemática foi 400, enquanto a média dos países avaliados é de 503, considerando alunos de 4º ano. No caso do 8º ano, a média brasileira foi de 378, abaixo da média internacional de 478.
Em ciências, as médias dos estudantes brasileiros foram 425 (4º ano) e 420 (8º ano), sendo que as médias entre os países na disciplina foram 494 (4º ano) e 478 (8º ano). No ranking de desempenho em matemática no 4º ano, o país ficou em 55º lugar, superando Marrocos, Kuwait e África do Sul.
Os resultados são semelhantes em ciências. A pontuação dos alunos de 4º ano colocou o país na 51ª posição entre os 58 países do ranking, atrás do Irã, Arábia Saudita e Omã. Esta é a primeira participação do Brasil no estudo, que é feito a cada quatro anos, desde 1995, pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA).
Lacunas nos anos iniciais
O levantamento gerou expectativa de pesquisadores da área, uma vez que não havia avaliações sobre o desempenho em matemática de crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, que comparassem o cenário do Brasil com o de países desenvolvidos. Boa parte dos estudos, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), levam em consideração alunos mais velhos, de 15 e 16 anos.
Conforme o diretor-fundador do instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, esse diagnóstico confirma uma realidade preocupante – as dificuldades de aprendizagem no Brasil já estão presentes desde os primeiros anos da experiência na escola:
— Desde muito cedo o Brasil está muito atrás dos países desenvolvidos. Estamos falando de crianças de 9 e 10 anos de idade que já têm um gap importante, tanto em ciências quanto em matemática, só que em matemática isso toma uma proporção bem grande.
Segundo o especialista, essa conjuntura demonstra que é necessário elevar a qualidade e o nível de exigência do ensino no país, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de modo a garantir uma trajetória escolar mais bem-sucedida.
— Isso inclui avaliação, currículo, materiais didáticos. Temos que alinhar o nosso processo educativo ao que está sendo conquistado em outros países. Não é possível que tenhamos 51% dos alunos sem atingir o patamar mais básico, sendo que 90% atingiram em outros países. Aceitar esse cenário é aceitar que os alunos brasileiros terão poucas oportunidades ao longo da vida — destaca Faria.
Indicadores preocupantes
O TIMSS 2023 indica que mais da metade (51%) dos alunos brasileiros de nove anos não conseguem fazer cálculos básicos de matemática e medidas simples. Somente 49% deles atingiram a pontuação mínima esperada, que inclui saber, por exemplo, multiplicação de números com um apenas um dígito, ou medir comprimentos com uma régua.
No 8º ano, mais uma vez, o desempenho é preocupante. Somente 38% dos jovens brasileiros conquistaram a nota mínima estabelecida pela entidade. Em ciência, os resultados são um pouco melhores, mas apenas 31% das crianças sabem que a gravidade puxa as coisas para baixo. No total, 61% dos estudantes de 4º ano alcançaram o padrão internacional mínimo na disciplina.
A pesquisa também aponta que o bullying afeta a performance dos estudantes brasileiros. No 4º ano, 24% dos alunos afirmaram sofrer bullying, sendo que estes alunos apresentaram uma média de desempenho de somente 368 pontos em matemática e 387 pontos em ciências. Já os 48% que relataram nunca ou quase nunca sofrer bullying alcançaram média de 427 e 459 pontos, respectivamente.
Os dados do TIMSS permitem comparações entre países e ao longo do tempo, oferecendo uma visão global do desempenho educacional. O Brasil aderiu ao estudo em 2022 e a primeira aplicação foi realizada entre agosto e setembro de 2023. Participaram do exame 22.130 estudantes brasileiros que estavam no 4ª ano em 2023 e 22.770 que estavam no 8º ano.
Ao todo, 796 escolas participaram da pesquisa no 4º ano, com informações coletadas de 1.187 professores de matemática e ciências. Do 8º ano, 849 escolas foram envolvidas, com 904 docentes de matemática e 916 de ciências. O Brasil atingiu taxas de participação de pelo menos 75% tanto no 4º quanto no 8º ano.
Foram avaliados cerca de 650 mil estudantes de escolas públicas e privadas dos países participantes em 2023. As provas foram feitas no computador, abordando questões sobre números, medição e geometria, por meio de resolução de problemas.