As notas dos estudantes brasileiros caíram nas três provas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) de 2022, divulgado nesta terça-feira (5). O estudo avaliou conhecimento e habilidades em Matemática, Leitura e Ciências de alunos na faixa dos 15 anos de 81 países e economias. O levantamento também traz informações sobre violência, bullying e a vivência dos estudantes durante a pandemia de covid-19.
Pela primeira vez, o desempenho nacional nas três áreas foi pior na comparação com o estudo anterior: as notas dos estudantes caíram de 412,9 (em 2018) para 410,4 em Leitura (em 2022), de 383,6 para 378,7 em Matemática e de 403,6 para 403 em Ciências. O levantamento é feito desde 2000 e dá notas de zero a 600 pontos: quanto mais alto o valor, melhor avaliado é o país no Pisa.
O resultado indica uma reversão do cenário que o país havia obtido no comparativo das edições de 2015 e 2018, quando os estudantes nacionais tinham melhorado nas três avaliações. O estudo é feito a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e é considerado pelo Ministério da Educação (MEC) como o principal levantamento sobre educação no mundo. Matemática foi escolhida a prioritária da edição deste ano.
Os alunos de Singapura, na Ásia, são os com as melhores notas em todas as avaliações. As notas do Camboja, também na Ásia, ocupam as piores colocações no levantamento.
A pontuação média em Matemática foi 472 pontos, Leitura registrou 476 e Ciências, 485.
Desempenho brasileiro
O resultado, em Matemática, fez o Brasil ficar na 65ª colocação entre os 81 países e economias avaliados. Na América do Sul, o país fica à frente apenas de Argentina e Paraguai no quesito. Segundo o estudo, 27% dos estudantes alcançaram o nível de proficiência dois na disciplina — quando a média do levantamento é 69%.
Além disso, apenas 1% dos estudantes no Brasil foram classificados com desempenho excepcional em Matemática, ou seja, atingiram o nível cinco ou seis: a média da OCDE é 9%.
A avaliação do Pisa mede a "eficácia com que os países preparam os alunos para utilizar a Matemática em todos os aspectos das suas vidas pessoais, cívicas e profissionais". Veja os melhores colocados e a posição do Brasil nesta prova:
- 1. Singapura: 574,7
- 2. Macau (China): 551,9
- 3. Taipei Chinês: 547,1
- 4. Hong Kong (China): 540,4
- 5. Japão: 535,6
- 65. Brasil: 378,7
Em Leitura, os alunos brasileiros ficaram na 64ª colocação geral (veja ranking abaixo), o equivalente ao terceiro melhor na América do Sul, atrás de Chile e Uruguai. Segundo o estudo, alfabetização em Leitura significa "compreender, usar, avaliar, refletir e interagir com os textos para atingir seus objetivos, desenvolver seu conhecimento e potencial e participar na sociedade".
- 1. Singapura: 542,6
- 2. Irlanda: 516,0
- 3. Japão: 515,9
- 4. Coreia do Sul: 515,4
- 5. Taipei Chinês: 515,2
- 64. Brasil: 410,4
A pior classificação brasileira é no ranking de Ciências: 74º lugar (confira abaixo), o que coloca o Brasil na oitava posição na América do Sul, superior a países como Republica Dominicana, Paraguai e Guatemala, por exemplo. Segundo o Pisa, a avaliação dessa área envolve a explicação de fenômenos científicos, como, por exemplo, "reconhecer, oferecer e avaliar explicações para uma série de fenômenos naturais e tecnológicos".
- 1. Singapura: 561,4
- 2. Japão: 546,6
- 3. Macau (China): 543,1
- 4. Taipei Chinês: 537,4
- 5. Coreia do Sul: 527,8
- 74. Brasil: 403
Outros dados do Brasil no Pisa 2022
- 70% dos estudantes no Brasil relataram que fazem amigos facilmente na escola e 76% sentiram que pertencem à escola
- 27% relataram se sentir solitários na escola, e 19% como se fossem excluídos ou deixados de fora das coisas na escola
- 19% não se sentem seguros a caminho da escola; e 10% não se sentem seguros em suas salas de aula
- 13% dos estudantes relataram não se sentir seguros em outros lugares na escola, como corredores, cafeteria, banheiro
- 22% das meninas e 26% dos meninos relataram ser vítimas de atos de bullying
- 55% são confiantes ou muito confiantes no uso de um programa de comunicação por vídeo
- 52% se sentem confiantes ou muito confiantes em se motivar para realizar o trabalho escolar
- 22% disseram ter repetido de série ao menos uma vez após entrar no Ensino Fundamental
Dados sobre a covid-19
- 74% dos estudantes no Brasil relataram que o prédio de sua escola ficou fechado por mais de três meses devido à pandemia
- 38% tiveram problemas pelo menos uma vez por semana para entender as tarefas escolares durante o aprendizado remoto
- 30% tiveram dificuldades em encontrar alguém que pudesse ajudá-los com os trabalhos escolares
- 47% relataram que eram apoiados diariamente por meio de aulas virtuais ao vivo em um programa de comunicação por vídeo
- 18% relataram que alguém da escola os perguntava diariamente como estavam se sentindo
Sobre o estudo
As provas do Pisa foram aplicadas a 10.798 alunos do país matriculados a partir do 7º ano do Ensino Fundamental em 2022. A divulgação dos resultados teve atraso de um ano: a avaliação deveria ter sido aplicada em 2021, mas foi adiada para o ano seguinte por conta da pandemia de covid-19. Em todo o mundo, cerca de 690 mil alunos fizeram as provas.
O Pisa avalia três domínios: Leitura, Matemática e Ciências. Cada edição avalia um domínio principal, o que significa que os estudantes respondem a um maior número de itens no teste dessa área do conhecimento e que os questionários se concentram na coleta de informações relacionadas à aprendizagem nesse domínio. A Matemática foi o foco da edição de 2022.
A pesquisa neste ano também avaliou domínios chamados inovadores, como Resolução de Problemas, Letramento Financeiro e Competência Global. Além da prova, o Pisa 2022 incluiu a aplicação de um questionário socioeconômico a estudantes e ao diretor de cada escola participante.
Na avaliação dos organizadores, o Pisa 2022, registrou "uma queda sem precedentes no desempenho". Na comparação com 2018, o resultado médio caiu 10 pontos em Leitura e quase 15 pontos em Matemática. Isso fez com que um em cada quatro alunos tivesse baixo desempenho nas três áreas. "Isso significa que eles podem ter dificuldade em realizar tarefas como usar algoritmos básicos ou interpretar textos simples", conclui o estudo.