O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023 apontou para o pior desempenho das escolas particulares desde 2015 no Ensino Médio. Nesta edição, a etapa na rede privada gaúcha conquistou média 5,7, abaixo dos resultados de 2021, 2019 e 2017, o que deixou o RS com a nona melhor colocação do país.
Diferentemente da rede pública, a particular não participa do levantamento do governo federal na sua totalidade: os resultados são apenas amostrais. O indicador é calculado a partir das taxas de aprovação e do resultado de Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova aplicada aos alunos de Língua Portuguesa e Matemática.
Presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Oswaldo Dalpiaz destaca a importância de avaliações como apoio para a tomada de decisões por parte de instituições, mas considera a relevância do Ideb como baixa, no que se refere à rede privada.
— O ensino privado praticamente não entra na composição da avaliação do Ideb, que é mais para o ensino público. Aqui no Estado, poucas escolas (particulares) foram convidadas e participaram da avaliação, então, esses resultados praticamente não retratam a situação do ensino privado. E nós gostaríamos de participar — garante.
Por entender que um indicador como esse é relevante, o Sinepe/RS pretende elaborar uma avaliação própria para a rede privada, para entender em que nível o ensino se encontra. A intenção é realizar essa prova no ano que vem.
Ideb
Nos Anos Iniciais, etapa entre o 1º e o 5º ano do Ensino Fundamental, a média gaúcha no Ideb se manteve estável entre 2017 e 2023, variando entre 7,4 e 7,5 e mantendo a rede privada do RS entre o quarto e o sexto melhor desempenho do Brasil. A variação também foi pequena nos Anos Finais, com alunos do 6º ao 9º ano: nessa etapa, a média passou de 6,7, em 2017, para 6,5, em 2023.
No Ensino Médio, a média obtida no Ideb está mais ou menos estagnada desde o início da série histórica, em 2005. Naquele ano, os alunos da rede privada ficaram com 5,7, na média entre a nota do Saeb e a taxa de aprovação. A performance teve melhora em 2017, quando subiu para 5,9, e chegou ao auge em 2019, com 6,1, mas caiu para 5,8, em 2021, e para 5,7, em 2023.
Veja abaixo a média no Ideb e a posição nacional de cada etapa:
Anos Iniciais
- 2023 – 7,5 (6º lugar)
- 2021 – 7,4 (5º lugar)
- 2019 – 7,5 (6º lugar)
- 2017 – 7,4 (4º lugar)
Anos Finais
- 2023 – 6,5 (5º lugar)
- 2021 – 6,6 (3º lugar)
- 2019 – 6,6 (7º lugar)
- 2017 – 6,7 (4º lugar)
Ensino Médio
- 2023 – 5,7 (9º lugar)
- 2021 – 5,8 (11º lugar)
- 2019 – 6,1 (6º lugar)
- 2017 – 5,9 (5º lugar)
Saeb
A estabilidade da média no Ideb dos Anos Iniciais se repete quando são analisadas as notas no Saeb. Em Língua Portuguesa, o resultado alcançado pelos estudantes caiu: em 2017, a nota ficou em 249,5, contra 246,96, em 2023. Em Matemática, por outro lado, melhorou, passando de 262,34 para 265,26, no período.
Entre os Anos Finais, os alunos tiveram queda gradativa na nota: em seis anos, a nota passou de 7 para 6,6. A perda maior foi em Matemática, que passou de 314,78 para 302,8 entre 2017 e 2023, mas também foi sentida em Língua Portuguesa, com diminuição de 303,77 para 302,8.
No Ensino Médio, a piora no desempenho foi puxada pela nota tirada nos exames, em especial em Língua Portuguesa. Se em 2017 os alunos da rede privada do RS conquistaram o segundo melhor resultado nacional em Língua Portuguesa, a posição no ranking foi caindo ao longo dos anos, e chegou à 12ª colocação em 2023. Em Matemática, a queda foi do quinto para o 11º lugar no período.
Veja abaixo a nota no Saeb em cada disciplina e a posição nacional de cada etapa:
Anos Iniciais
- 2023 – 7,5 (6º lugar)
- 2021 – 7,46 (5º lugar)
- 2019 – 7,6 (5º lugar)
- 2017 – 7,5 (4º lugar)
Anos Finais
- 2023 – 6,6 (4º lugar)
- 2021 – 6,7 (3º lugar)
- 2019 – 6,9 (5º lugar)
- 2017 – 7 (3º lugar)
Ensino Médio
- 2023 – 5,8 (11º lugar)
- 2021 – 6 (10º lugar)
- 2019 – 6,3 (10º lugar)
- 2017 – 6,2 (3º lugar)
Taxas de aprovação
Com uma “cultura de reprovação” conhecida, o Rio Grande do Sul registrou aumento nas taxas de aprovação nas escolas privadas, mas não o suficiente para tirá-lo da segunda metade do ranking nacional no Ensino Médio, entre as escolas particulares. A alta repetência acontece em todas as etapas, mas é mais forte conforme os anos passam: nos Anos Iniciais, o Estado ficou entre o 12º e o 14º a aprovar mais estudantes do 1º ao 5º ano entre 2017 e 2023, enquanto nos Anos Finais ficou entre o 18º e o 21º que mais aprovou, de um total de 27 unidades da federação.
Com relação ao Ensino Médio, a melhor posição nesse período foi em 2019, quando o RS foi a 14º Estado a aprovar mais, e a pior foi em 2021, quando ficou em 23º lugar.
Segundo Mateus Saraiva, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no início da década de 1990, foi iniciada uma discussão sobre a cultura da repetência no Brasil. Na época, metade dos alunos reprovava já na 1ª série do Ensino Fundamental, o que levava a altos índices de abandono escolar e a um processo contínuo de exclusão.
Com a criação de indicadores como o Ideb, essa cultura passou a ser combatida, mas tem mudado de uma forma mais lenta no Estado. Saraiva elenca dois possíveis motivos:
Aqui, parecemos ter uma menor adesão a essa lógica de produção de indicadores. Por outro lado, acho que temos um nível maior de discricionariedade do professor, que entende que esse aluno tem que ser reprovado por isso e por aquilo e acaba reprovando. Essas poderiam ser duas questões que formam um mosaico nesse sentido.
MATEUS SARAIVA
Professor da Faculdade de Educação da UFRGS
Veja abaixo a posição nacional de cada etapa na taxa de aprovação:
Anos Iniciais
- 2023 - 14º lugar
- 2021 - 12º lugar
- 2019 - 13º lugar
- 2017 - 13º lugar
Anos Finais
- 2023 - 18º lugar
- 2021 - 21º lugar
- 2019 - 18º lugar
- 2017 - 19º lugar
Ensino Médio
- 2023 - 16º lugar
- 2021 - 23º lugar
- 2019 - 14º lugar
- 2017 - 15º lugar