O Rio Grande do Sul manteve estabilidade no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023, que mede o desempenho dos estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio brasileiros. Os indicadores, calculados a partir das taxas de aprovação e do resultado de avaliações aplicadas aos alunos nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, deixaram o Estado com a nona colocação entre as turmas do 1º ao 5º ano, com a 11ª posição do 6º ao 9º ano e com o 10º lugar no Ensino Médio.
O Ideb de 2023 representa uma retomada das condições de normalidade da avaliação, que é realizada a cada dois anos. Em 2021, a pandemia demandou adaptações às redes de ensino que envolveram, entre outras medidas, a liberação para a aprovação automática de estudantes que tiveram dificuldade de acesso aos conteúdos ministrados em aulas remotas. Por esse motivo, nesta reportagem, a comparação será com os dados da edição anterior do índice do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2019.
Anos Iniciais
Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o cálculo do Ideb é feito junto aos alunos do 5º ano. Nessa etapa, o Rio Grande do Sul manteve a média 6 tanto em 2019 como em 2023, o que lhe deixou com a nona colocação entre as unidades federativas, empatado com Mato Grosso e Alagoas. O melhor desempenho foi do Paraná, que conquistou 6,7. A média nacional foi de 6, levemente superior à de 5,9 obtida em 2019.
No Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), como é chamada a avaliação aplicada aos estudantes, o RS passou do oitavo lugar nacional nessa etapa, em 2019, para o nono, em 2023, com uma redução da nota de 6,4 para 6,3. A média brasileira também caiu um décimo: passou de 6,2 para 6,1.
Já a taxa de aprovação dos alunos gaúchos, apesar de ter tido um leve acréscimo, subindo de 0,94 para 0,96 (o máximo é 1), ficou entre as piores do Brasil: saiu da 16ª para a 19ª colocação. No Brasil, essa taxa foi de 0,95, em 2019, e de 0,97, em 2023.
Anos Finais
O Ideb dos Anos Finais do Ensino Fundamental teve como base o desempenho dos estudantes do 9º ano. O RS teve leve melhora nessa etapa, passando da média 4,8 para 4,9, e subiu duas posições no ranking, chegando ao 11º lugar. No período, o país registrou 4,9, em 2019, e 5, em 2023.
Já o desempenho no Saeb piorou: a nota dos estudantes caiu de 5,6 para 5,4, levemente superior à nacional, que era de 5,5, há cinco anos, e chegou a 5,3, no ano passado. Com isso, o Estado registrou um decréscimo, passando da quarta para a sétima colocação entre as unidades federativas.
A taxa de aprovação, por outro lado, teve uma melhoria sutil. Passando de 0,85 para 0,91 nesse indicador, o RS subiu uma casa, ficando com a 21ª posição nacional. No Brasil, essa taxa ficou em 0,87, em 2019, e em 0,92, em 2023.
Ensino Médio
Referente aos dados das turmas de 3ª série, o desempenho do Ensino Médio é, tradicionalmente, o pior entre todas as etapas, e não foi diferente nesta edição do Ideb. A média brasileira ficou em 4,3, contra 4,2 em 2019. Em relação aos alunos gaúchos, o índice se manteve em 4,2 em ambas as edições. O resultado, contudo, deixou o Estado em 10º lugar, sendo esta posição inferior à nona colocação de 2019.
O que alavancou o desempenho do RS no Ensino Médio foi o bom resultado nas provas do Saeb. Os estudantes do Estado tiveram nota de 4,9 em 2023, superior aos 4,7 da média brasileira, o que lhes permitiu ocupar a quarta posição no ranking. Em 2019, os gaúchos ficaram com a quinta colocação, com nota 5,1, contra 4,8 da nota nacional.
A taxa de aprovação, porém, puxou para baixo a média do Estado no Ideb – das 27 unidades federativas, os alunos do RS foram os quartos que mais reprovaram nessa etapa. O indicador ficou em 0,84, contra 0,92 da média nacional. Em 2019, a média de aprovação de 0,82 deixou o RS com a sétima pior posição no ranking brasileiro, que teve média de 0,87.
Pequena melhora
Para o doutor em Educação e professor da Universidade Feevale Gabriel Grabowski, o resultado do Ideb aponta para uma tendência de “pequena melhora”, que, em muitos casos, representa um retorno aos indicadores pré-pandemia.
Fica evidenciado no histórico que já tínhamos alcançado índices muito próximos desses e que, depois, caíram em 2021. Estamos recuperando terreno, o que tem a ver com dois grandes fatores: o retorno à presencialidade, que permite uma relação direta professor-aluno, e a retomada de algumas políticas de apoio aos entes federados, que voltaram, em 2023, a trabalhar em conjunto em alguns programas.
GABRIEL GRABOWSKI
Professor da Universidade Feevale
O docente ressalta, entretanto, que a melhoria ainda é muito ponderada, e que o resultado poderia ser melhor se os planos de educação nacional, estaduais e municipais tivessem sido cumpridos.
— Estamos fechando o plano nacional e os estaduais com baixo esforço de cumprimento da grande maioria das metas. O nosso planejamento não foi executado como havíamos planejado. Cabe uma autocrítica por parte, principalmente, dos Estados sobre isso.
No Plano Nacional de Educação, que estabeleceu metas a serem cumpridas até 2024, a previsão era de que o Ideb alcançasse média 6 nos Anos Iniciais, 5,5 nos Anos Finais e 5,2 no Ensino Médio. Somente a meta ligada aos Anos Iniciais foi obedecida.
No entendimento de Grabowski, a qualificação dos indicadores dos Anos Iniciais, que foram alvo de um esforço conjunto dos entes federados para ampliar a alfabetização infantil, demonstra a eficácia da colaboração entre os governos federal, estaduais e municipais. Por esse motivo, defende que o mesmo deve ser feito para resolver problemas ligados aos Anos Finais e ao Ensino Médio.