
Além das marcas na saúde e no mercado de trabalho, a pandemia também afetou a educação. Depois de 27 de março de 2020, quando foi confirmado o primeiro caso de covid-19 em Passo Fundo, escolas fecharam por meses e alunos e professores precisaram se adaptar a uma nova realidade: o ensino remoto.
Naquele contexto, as salas de aula foram substituídas por telas e o contato entre os estudantes e docentes acabou limitado a videochamadas. Se agora isso parece comum, à época havia pouca ou nenhuma preparação prévia para a mudança, e a nova e tecnológica forma de aprender culminou em alunos mais introspectivos e com níveis desiguais de aprendizagem.
Em Passo Fundo, o impacto ficou claro já em 2021, quando as crianças apresentaram dificuldades ao voltar para as salas de aula no esquema ora presencial ora remoto, dependendo das restrições para combater o avanço do vírus.
— Não sabíamos se era uma patologia, uma possível deficiência ou atrasos de linguagem e motores, seja pela falta de convívio da escola ou de estimulação — lembra Rochele Tondello, a coordenadora do Centro Pós-Covid de Combate à Desigualdade Educacional, aberto pela prefeitura de Passo Fundo em maio de 2022.
O espaço multidisciplinar foi criado a partir das demandas das escolas municipais levadas à Secretaria da Educação. Desde a fundação, o espaço realizou 33.581 atendimentos. Só em 2024 foram 13.789 — o que indica que os efeitos da pandemia na educação se estendem mesmo depois do fim da emergência global de saúde.
Quem procurou ajuda no centro foi a pequena Helena de Azevedo da Rocha, 9 anos. Ela entrou no primeiro ano do ensino fundamental durante a pandemia e, por isso, passou pelo processo de alfabetização através das telas, sem contato presencial com os colegas ou professores.
— A gente sempre acompanhou o processo junto com ela. Sentava, fazia os trabalhos juntos e devolvia para a professora. Era uma forma de tentar suprir a falta de aula presencial e do contato com os colegas — conta a mãe Lisandra de Azevedo da Rocha.
Assim como outras crianças alfabetizadas no ensino remoto, Helena teve dificuldade quando passou a frequentar as salas de aula presencialmente — tanto no aprendizado quanto para se enturmar com os novos colegas.
Ela, então, passou a frequentar o centro multidisciplinar duas vezes por semana durante seis meses.
— Depois que foi para o Centro Pós-Covid ela mudou 100%. Tem vários profissionais que ajudam nessa reestruturação da criança. A Helena passou por psicóloga, psicopedagoga, neurologista e se desenvolveu muito. Não nos chamaram mais no colégio — disse a mãe.

Cinco anos depois do primeiro caso do vírus em Passo Fundo, o Centro Pós-covid deve passar por uma reestruturação. O replanejamento acontecerá ao longo de 2025 e o espaço deve entrar em funcionamento no próximo ano.
— A ideia é ampliar a capacidade de atendimento e diversificar as especialidades oferecidas, garantindo um suporte ainda mais abrangente para os estudantes que necessitam desse acompanhamento — disse o secretário municipal de Educação, Adriano Teixeira.
Hoje o centro já atende crianças que não foram afetadas diretamente pela pandemia. É o caso de Heitor Mello de Carvalho, 5 anos. Ele recebe atendimento para combater os efeitos de um tumor cerebral que causa alterações no comportamento e redução da força do lado direito do corpo.
— Como na pandemia a orientação era que só buscássemos os hospitais em casos extremos, acabamos não identificando o problema quando bebê. No centro tem atendimentos de difícil acesso e é tudo disponibilizado gratuitamente. Tem sido uma experiência muito boa — elogiou a mãe Ketlen Santos de Mello.

Desafios da docência
Enquanto os alunos tiveram dificuldade para aprender, os professores também enfrentaram os seus percalços. Nesse caso, precisaram criar estratégias educativas para prender a atenção dos alunos durante as aulas online.
A professora Maria Cecília Marques lembra que um dos principais desafios foi encontrar formas de não cansar os estudantes diante das telas. Para manter o foco, a instituição onde leciona chegou a diminuir a carga de horas de aula: passou de 10 para seis períodos por dia.
— A gente também falava durante as aulas sobre como estava a vida naquele período e como estavam se sentindo. Tentávamos fazer esse equilíbrio para depois seguir para a aula. Também utilizávamos vídeos para explicar os conteúdos. Fazíamos o máximo para aproveitar bem aquele tempo com eles — disse.
Para a professora, o período afastada das salas de aula também serviu para confirmar ainda mais a importância do contato presencial com os estudantes:
— Eu já achava importante essa troca, mas não tinha dimensão do quanto. Só quando ficamos afastados é que pude perceber melhor o quanto faz falta. Além disso acho que aprendemos a ter um olhar mais humano sobre eles, do que trazem para a gente sobre a própria vida deles.