Cesar Paz
Fundador do Ecosys e Sócio da Pipeline Capital
Gustavo Borba
Diretor do Instituto para Inovação em Educação da Unisinos
Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS
Vivemos provavelmente a maior crise educacional do país em sua história. Temos milhões de crianças e jovens sem aula há mais de um ano. Uma geração inteira com prejuízos, muitos tendo a parte mais importante de sua formação afetada.
Nesse cenário de crise sanitária global, nosso país escancarou a real prioridade com a educação da sua gente. A tão alegada prioridade da educação somente emerge quando todas as demais prioridades já foram atendidas. E são muitas. E foram muitas. Em uma sociedade com uma desigualdade social enorme, a ausência de uma educação inclusiva e de qualidade é a mais perversa delas. A desigualdade é tão profunda que gerou fraturas sociais que impedem inclusive que os grupos sociais tenham tolerância para a construção de consensos mínimos. Os desafios vão desde as condições dignas mínimas da infraestrutura das escolas até a qualidade do ensino.
Sabemos que o futuro dos jovens passa pelo futuro da educação, mas, nesse contexto, qual é o futuro da educação? Vivemos um momento de transformação, no qual o ensino desponta como um dos maiores e mais complexos desafios em um contexto pleno de incertezas. Alguns desses desafios são de curto prazo e nos provocam questionamentos ainda mais específicos. Como voltaremos a uma dinâmica educacional adequada, com uma volta às aulas com segurança e os cuidados sanitários necessários? Como implantaremos o modelo híbrido de ensino e a preparação dos docentes e dos estudantes para esse novo ambiente? Como faremos isso de forma inclusiva e diversa?
É difícil ter respostas objetivas para perguntas tão complexas, mas é fundamental debatermos os caminhos possíveis para responder essas perguntas. Há dois anos, ainda antes da pandemia, o livro A Escola do Futuro (Ed. Penso), de Piangers e Borba, já abordava, por exemplo, a questão das novas tecnologias, os desafios e as mudanças a partir de novas práticas e novos saberes.
A educação se constitui na interação, na conexão entre alunos e entre alunos e professores. Esse processo se revela pelo desenvolvimento de competências que permitem aos alunos a ação em comunidade, compreendendo seu impacto e seu papel e transformando as realidades nas quais estão inseridos.
Entendemos que os ambientes de ensino serão cada vez mais ecossistemas criativos e de inovação nos quais a geração do conhecimento, a interação entre as pessoas e os espaços de experiência devem gerar as melhores condições para a aprendizagem. Esses ambientes serão necessariamente enriquecidos pelas novas tecnologias online e de ensino remoto, criando os espaços híbridos de ensino, que serão a marca dos próximos anos, do Básico ao Superior.
A democratização da educação passa por tecnologia, mas a tecnologia precisa estar à disposição de todos. É preciso abandonar o modelo de mérito injusto e arrogante, gerando condições do desenvolvimento de todas as pessoas, como irmãos. Que se equilibrem as desigualdades, que não se deixe ninguém para trás, independentemente das condições que a vida ofereceu para cada um.
Na pandemia, com um vírus que não diferencia ninguém, precisamos orientar nossas ações pela ciência, pelo bom senso e pela visão de bem comum. A ciência dá suporte para políticas públicas inclusivas, pautadas pelo bem coletivo. Mas necessitamos do bom senso de todos os atores, públicos e privados, para encontrar consensos mínimos que construam caminhos para permitir que os milhões de jovens que tiveram sua educação sonegada pelos desalinhamentos e pela falta de visão de parte de nossos líderes desenvolvam seu processo educativo. Esse processo pressupõe condições mínimas de infraestrutura sanitária e tecnológica, o que inclui vacinação prioritária e imediata para todos os professores e funcionários de escolas.
Ou criamos essas condições imediatamente para a retomada ou estaremos condenando toda uma geração que usa o ensino público à mais cruel das desigualdades: a educacional. O futuro da educação é o futuro do país. Sem uma educação de qualidade para todos não teremos, jamais, um futuro de que possamos nos orgulhar como nação.