A possibilidade de suspensão das aulas presenciais mesmo após a retomada das atividades em sala de aula, caso os municípios passem para a bandeira vermelha no modelo de distanciamento controlado, colocou um componente de angústia adicional nas incertezas vivenciadas pela comunidade escolar. Especialistas em ensino temem que um eventual recuo desestabilize ainda mais a rotina de estudantes, pais e professores.
No dia seguinte ao anúncio do cronograma de retorno da rede de ensino, o governador Eduardo Leite confirmou que o modelo presencial será liberado apenas para as cidades classificadas nas cores amarela e laranja, desde que cumpridas ao menos duas semanas nestas bandeiras. Se, ocasionalmente, o município passar para a cor vermelha, as atividades serão imediatamente interrompidas, retornando às aulas remotas.
Crítico ao calendário apresentado pelo governo do Estado, Leandro Raizer, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), assinala que o regresso do ensino presencial, antes mesmo de seu início, surge cercado de dúvidas.
– O processo de aprendizagem pressupõe continuidade, rotina e clareza. Já iniciar prevendo que poderá parar é muito complicado para os estudantes. Como irão planejar suas atividades? – questiona Raizer.
Para atenuar o impacto de um inesperado recuo, o coordenador de projetos na área de políticas docentes do movimento Todos Pela Educação, Ivan Gontijo, sugere duas políticas. A primeira delas seria liberar a presença facultativa dos estudantes em sala de aula. Assim, aqueles que preferirem poderiam permanecer estudando em casa.
A segunda, de acordo com Gontijo, passa pelo estabelecimento de um rodízio entre as turmas, revezando a presença de alunos nas escolas de maneira alternada. Ambas as possibilidades, conforme a Secretaria da Educação do Estado, estão previstas no plano de retorno do ensino.
– Esta retomada só pode acontecer em municípios que estão com uma situação muito tranquila e com diretrizes muito claras – pontua Gontijo. – Há outros pontos a serem esclarecidos. De que maneira funcionará, se algumas escolas retornarem e outras não? O ano letivo fechará em momentos distintos, já que algumas unidades cumprirão com a carga horária antes de outras? Isso traz desafios que precisam ser repensados – acrescenta.
A secretaria sublinhou, ainda, nesta quarta-feira, que o governo do Estado está apenas retirando a proibição das atividades presenciais, permitindo que municípios deliberem pela retomada – ou não – das aulas. Também disse que a decisão de mandar os estudantes para as escolas será exclusiva dos pais e responsáveis. Aqueles que preferirem poderão manter os alunos em ensino remoto.