Nas escolas da rede pública gaúcha, mais de 10% dos cerca de 40 mil professores regentes de classe, aqueles que atuam diretamente nas salas de aula, têm mais de 60 anos ou possuem alguma doença que os incluam em grupos de risco para o coronavírus. Conforme levantamento realizado pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), por meio de suas 30 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), um total de 4,3 mil docentes fazem parte da população com idade ou comorbidades que podem agravar os sintomas do coronavírus.
Em relação aos servidores, como merendeiras e serventes de limpeza, aproximadamente 15,4% dos 11 mil profissionais na área de educação pública no Rio Grande do Sul também têm mais de 60 anos ou possuem alguma doença que os incluam em algum grupo de risco. Os dados são fundamentais para pautar o planejamento de retorno às aulas na rede estadual. O governo do Estado apresentou na terça-feira (1º) uma nova proposta para a retomada das aulas presenciais, que prevê retorno gradual, começando em setembro e indo até novembro.
Para a rede estadual, as atividades presenciais só devem ser retomadas em 13 de outubro, começando pelos alunos do Ensino Médio. Os estudos se darão de forma híbrida: as turmas serão divididas em dois grupos, de forma alternada, para que o número de estudantes em sala de aula seja reduzido. Os horários de entrada e saída e do recreio também serão organizados para que não haja aglomeração.
Segundo o governador Eduardo Leite, em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta quarta (2), serão contratados mais professores e servidores para suprir aqueles que estão em grupos de risco e promover a execução adequada do modelo proposto para a rede estadual:
— Teremos que reduzir o tempo das crianças na escola para que possamos fazer várias vezes no dia a higienização. O governo está contratando equipes de serventes para isso, porque o tipo de limpeza que se fazia nas escolas era outro. Serão disponibilizados equipamentos de proteção para professores e alunos, e vamos fazer inclusive a contratação e reposição de professores que estejam na faixa de risco: eles serão substituídos e não vão estar presencialmente.
Para médicos, há riscos no retorno às escolas, mas reabertura é possível
Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a volta às aulas pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros que são idosos ou adultos com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco da covid-19. Isso porque eles vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar, entre três e 17 anos, destaca a Fiocruz. O epidemiologista Diego Xavier, da instituição, destaca que a maioria desses milhões de brasileiros em grupos de risco e que convivem com algum estudante dentro de casa tem buscado cumprir o distanciamento social.
— Mas a volta às aulas pode ser uma perigosa brecha nesse isolamento. Nós estimamos que se apenas 10% dessa população de adultos com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, isso representará cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs — analisa Xavier.
Já uma recente pesquisa sobre o tema, publicada na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health, sugere que escolas podem reabrir onde houver outras formas de se controlar a pandemia, como distanciamento social. "Onde medidas de mitigação da pandemia resultam em um controle forte da doença, nós prevemos que escolas podem ser mantidas abertas de forma segura, para o bem educacional, social e econômico da comunidade, enquanto nos adaptamos para viver com a covid-19", definiu a epidemiologista Kristine Macartney, autora principal desse estudo.
Christovam Barcellos, sanitarista e vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz, recomenda que Estados e municípios ofereçam aos pais informações necessárias para os cuidados que devem passar a adotar dentro de suas casas.
— Se isso não for feito, muitos pais se sentirão inseguros frente à decisão de retomar os estudos presenciais dos seus filhos. Com a expansão da população exposta à infecção pelo vírus, deveriam também ser ampliadas as atividades de vigilância epidemiológica desses grupos vulneráveis por meio de testagens e acompanhamento clínico permanente — afirma Barcellos.
Confira o calendário para o retorno das aulas presenciais no RS
- Educação Infantil - 8 de setembro
- Ensino Médio e Ensino Superior - 21 de setembro
- Retorno das atividades presenciais na rede estadual - 13 de outubro
- Ensino Fundamental (anos finais) - 28 de outubro
- Ensino Fundamental (anos iniciais) - 12 de novembro