A Polícia Federal (PF) confirmou, nesta quarta-feira (5), que investiga quatro ataques por questões raciais que ocorreram em aulas online de universidades do Rio Grande do Sul durante a pandemia do coronavírus. Em alguns deles, grupos entraram nas salas sobre temáticas da população negra e ameaçaram participantes. Além disso, imitaram sons de macacos e disseram palavras sexistas.
Duas investigações estão em aberto na delegacia da PF em Santa Maria, uma em Santo Ângelo e uma em Porto Alegre. A informação foi dada pelo delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Alessandro Maciel Lopes, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia.
O delegado informou que não descarta que seja o mesmo grupo envolvido nos crimes:
— Há uma possibilidade bem grande de que isso tenha sido feito de forma premeditada e orquestrada por um mesmo grupo, ainda que com pessoas diferentes.
Lopes ainda disse que "a grande dificuldade é a identificação do autor" desses crimes devido aos mecanismos utilizados para manter o anonimato, mas que a corporação está empenhada em descobrir quem são envolvidos.
— Esse tipo de crime (nesta modalidade) é algo bastante recente, então é importante que a gente combata — afirmou.
A PF não informou se já trabalha com nomes de suspeitos e preferiu não dar entrevista à GaúchaZH sobre os casos, já que as investigações estão em curso.
O Ministério Público Federal (MPF) acompanha os casos. Na mesma audiência pública, o procurador Enrico Rodrigues de Freitas declarou que “estes atos não são pontuais, nem isolados”.
— São ataques absolutamente coordenados, que se configurariam até mesmo em formação de quadrilha — criticou.
Os ataques
Uma das aulas em que houve os ataques racistas foi da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no início do mês passado. A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernanda Bairros, que havia sido convidada, relatou que, após 40 minutos da aula, um grupo de 15 pessoas pediu para ingressar no grupo e foram aceitos por imaginar que eram alunos. Logo em seguida, começaram a conversar entre si e, depois, vieram os ataques.
— Eles começaram a fazer sons. Gemidos de sexo, risadas. Deboches de cunho racista e sexista. Eles ameaçaram as pessoas que roubariam cartões de crédito e senha, com o intuito de acabar com aquela atividade acadêmica. As pessoas ficaram impressionadas e acabaram saindo — lamentou.
Depois disso, segundo a professora, surgiu receio de participar de aulas, mas não impedirá a realização de outras atividades:
— Racismo é uma violência que tem consequência psicológica. Mas também temos um compromisso de discutir isso dentro de universidades e da educação.
Um outro caso ocorreu em aula da Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) no Campus da Restinga, em Porto Alegre. A proposta pedagógica era discutir o racismo a partir de um olhar dos moradores do bairro.
O modo de atuar foi semelhante com o caso da UFSM e também ocorreu no início de julho, como lembra a técnica em Educação Cristina Santos, que combinou a roda de conversa.
— Enquanto estávamos esperando as pessoas entrarem na sala, sofremos os ataques racistas de um grupo de pessoas que entrou na live. As pessoas começaram a conversar entre eles e, daqui a pouco, ouvimos sons de macacos. A pessoa, depois, voltou à sala e disse que morava em um zoológico — descreveu.