Após 46 dias da decisão da China de paralisar exportações brasileiras de carne bovina, o Rio Grande do Sul sente cada vez mais os impactos do embargo. Representantes de entidades da área relatam surpresa com a demora para resolver o problema e também com o oficio emitido, na terça-feira (19), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que orientou que frigoríficos habilitados a exportar suspendam novas produções que tinham o país como destino.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do RS (Sicadergs), Ronei Lauxen, o impacto é bastante negativo para o país e para o Estado, e apresenta efeitos:
— A China representa uma fatia muito grande exportaçao do Brasil. Esse embargo já repercute de forma negativa em vários aspectos, como na questão dos preços para o produtor, da paralisação da pdução. Tanto a demora para resolver o problema quanto o novo comunicado do ministério, que suspendam novas produções, são surpreendentes. A orientação do Mapa, na minha visão, indica que deve demorar mesmo para que se consiga a liberação — pontua.
No Rio Grande do Sul, apesar de existirem apenas três plantas habilitadas para exportar para a China, todas pertencentes a Marfrig, elas "são as maiores do Estado" e tinham se direcionado para a exportação, explica Lauxen.
Coordenador da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Pedro Piffero também se diz surpreso com a demora, em razão da necessidade chinesa de adquirir o produto - 38% do que foi importado pelo país asiático tinha origem brasileira.
— Quando um mercado representa mais de 50% das vendas, certamente no momento em que para, paralisa boa parte do que a gente vende. É um efeito difícil de absorver. Depende da reabertura para voltar ao normal. Por outro lado, surpreende a demora, pois compram uma grande quantidade do Brasil — afirmou Piffero em entrevista à colunista Gisele Loeblein, na última semana.
Um dos impactos no Estado foi a queda no valor do boi gordo em setembro, superior a do período - com a oferta maior em razão da saída do gado das pastagens de inverno. O recuo foi de 10%, e normalmente é de cerca de 2%, de acordo com o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS. A queda nos preços afeta diretamente o pecuarista, pontua a entidade.
Coordenador do núcleo, Júlio Barcellos cita também o impacto em relação aos frigoríficos. Segundo ele, o RS opera mais no mercado interno, exportando uma quantidade menor do produto para a carne. Mas a paralisação afeta, por exemplo, frigoríficos do Estado que fizeram investimentos e pretendiam entrar no mercado de exportação ao país estrangeiro.
Há também o impacto sentido pelo consumidor, explica Barcellos:
— Ao menos 40% da exportação brasileira é para a China. Se você deixa de destinar esse produto para lá, ele vai sobrar no mercado interno, e acaba colidindo com um consumidor brasileiro que está atualmente empobrecido. Então começam a surgir algumas promoções. Em resumo, o momento é de incerteza. Vai exigir do governo brasileiro uma grande habilidade no restabelecimentos das negociações.
Procurada, a Marfrig afirmou que não comenta sobre o tema. A empresa afirmou, em nota emitida no começo de setembro, logo após o anúncio de suspensao chinesa, que "acredita que a situação está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve":
"Por se tratarem de casos de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina) atípicos, a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) deveria manter inalterado o status do Brasil, que atualmente possui status de risco insignificante, encerrando o episódio. O tratamento que vem sendo dado ao caso comprova a eficiência e a transparência dos mecanismos brasileiros de rastreabilidade e de controle sanitário."