Quando um mercado que é destino de mais da metade das exportações tem suas portas fechadas, o impacto é apenas uma questão de tempo. É por isso que a demora na retomada dos embarques brasileiros de carne bovina para a China preocupa. A expectativa era de que a suspensão fosse breve – eram casos atípicos e o Brasil foi transparente. Mas mais de um mês depois da confirmação do Ministério da Agricultura, os negócios seguem parados.
Nos bastidores, cresce a especulação de que a volta é iminente, pela necessidade chinesa – 38% do que foi importado pelo país asiático tinha origem brasileira.
– Quando um mercado representa mais de 50% das vendas, certamente no momento em que para, paralisa boa parte do que a gente vende. É um efeito difícil de absorver. Depende da reabertura para voltar ao normal. Por outro lado, surpreende a demora, pois compram uma grande quantidade do Brasil – observa Pedro Piffero, coordenador da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Apesar de ter apenas três frigoríficos habilitados (todos da Marfrig), o Rio Grande do Sul também sentiu o impacto. A queda no valor do boi gordo em setembro foi superior a do período – com a oferta maior em razão da saída do gado das pastagens de inverno. Conforme o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS, o recuo foi de 10% – normalmente, é de cerca de 2%.
– No final de agosto, os preços começaram a cair e ficariam em patamar mais baixo, ganhando estabilidade em meados de outubro. O fenômeno China forçou os frigoríficos a reduzirem o preço pago – explica Júlio Barcellos, coordenador do Nespro/UFRGS.
Ele acrescenta que, no Brasil Central, como o peso nas exportações para os chineses é maior, a redução de valores foi mais acentuada. E apareceu na carne que é comprada pela indústria gaúcha de outros Estados.
Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs, pondera que mesmo sendo só três plantas habilitadas, “são as maiores do Estado” e tinham se direcionado para a exportação:
– O efeito tem sido negativo. Tanto no produtor quanto na indústria, os preços já baixaram.
Para Barcellos, o fenômeno pontual da China não tem potencial para derrubar a atividade. Para o consumidor, por ora, podem começar a surgir ofertas no varejo.