O Brasil encerra 2020 com mais um recorde à vista: as exportações de carne bovina chegarão a volume e faturamentos recordes, aponta a Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Serão 2,02 milhões de toneladas e US$ 8,53 bilhões. A perspectiva também é de seguir crescendo em 2021, tanto em quantidade (6%) quanto em receita (3%). E uma fatia importante desse resultado — e da aposta futura — vem do apetite da China, país que respondeu por 42,27% do total embarcado até novembro. Reforçado pela demanda da sua região administrativa especial, Hong Kong, que abocanhou outros 15,73%.
— É um mercado extremamente atraente, de muito volume, perene. O faturamento cresceu 65,8% e o volume, 88,3%. Em média, são 600 mil bois por mês para atender a demanda da China — observou Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec.
É o chamado "boi China" alimentando a performance histórica do setor. A expressão é usada em referência aos padrões exigidos por esse mercado, que são de um gado jovem (com menos de 30 meses no momento do abate, sendo a idade verificada pela dentição, tendo até quatro dentes incisivos permanentes), que resulta em carne mais macia e rende melhor remuneração. Hoje, o Brasil tem 35 frigoríficos habilitados para vender. E a expectativa é de que novas sejam incluídas na relação no próximo ano. Na lista dos cinco primeiros possíveis contemplados ( de 26 que entregaram documentação) há um frigorífico do Rio Grande do Sul — que tem três já credenciados, todos da Marfrig.
Sobre a manutenção das vendas à China em patamares semelhantes aos atuais, Camardelli pontuou:
— Vou me valer de uma interlocução do nosso conselho com o embaixador chinês, em que ele colocou que, em 2027, a China vai demandar 8 milhões de toneladas equivalentes de carcaça de carne bovina. Isso nos dá certeza de que esse parâmetro de exportações deve continuar, pela garantia sanitária que o Brasil dá, e também pelo progressivo aumento de pessoas no país à zona de consumo.
A ressalva em 2020 fica por conta da redução de valor médio dos produtos exportados — no caso da China, o recuo foi de 12%. Esse recuo é explicado por câmbio, que impacta em preço de matéria-prima e outros itens, e consumo subvencionado em locais atingidos pela covid-19, que obrigou a mexer na oferta, no tipo de produto embarcado.
O mercado externo fica em 2020 com fatia de 23% da produção brasileira de carne bovina. A maior parte ainda serve para atender o mercado interno.