No que depender do apetite chinês, o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina em 2020 está bem encaminhado. De janeiro a agosto, o país asiático foi destino de 62,4% do volume total embarcado da proteína, se consideradas as somas das entradas pelo continente e pela região administrativa especial de Hong Kong. Em agosto, houve um leve recuo, de 7 mil toneladas, na quantidade negociada. O que não é visto como mudança de patamar em um curto período.
No total, os embarques brasileiros de carne bovina somam, no acumulado, 1,29 milhão de toneladas, aumento de 12% sobre os oito primeiros meses de 2019. Em receita, são US$ 5,4 bilhões, um crescimento de 23%, segundo dados do Ministério da Economia compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
A entidade estima que 2020 deva encerrar com crescimento acima dos 12% verificados no acumulado. Otimismo que é ancorado na demanda por proteína animal, crescente nos últimos meses do ano. Esse apetite é e será sustentado até que a China possa recuperar as perdas expressivas do plantel de suínos, em razão da peste suína africana, período estimado entre dois e três anos.
A redução do rebanho levou à busca pela proteína, incluindo frango e gado, fora de casa. Isso significa que, não será do dia para noite que o país asiático reduzirá drasticamente as importações. Ainda assim, é preciso ficar atento a esse direcionamento da produção. Sobretudo no caso de bovinos, que têm um ciclo longo, observa Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da UFRGS:
— O déficit chinês ainda continua, em cerca de 30%, mas o país passou a intensificar a política de produção local de suínos, e já aparecem alguns resultados. Há relatos de empresas fazendo condomínios verticais para a produção de carnes. E isso também ajudou a puxar a demanda por soja e milho.
Esse cenário exige atenção na hora de produtores programarem os investimentos na pecuária, observa Barcellos. O mercado interno segue tendo a maior fatia de consumo da produção nacional, cerca de 80%. E, neste momento, o consumo também está aquecido. No Rio Grande do Sul, nem mesmo o início do período de safra está reduzindo as cotações. Foi a primeira vez, em 10 anos, que houve alta de valores no quilo do boi gordo na primeira semana de setembro, segundo dados do Nespro:
— O que estamos enxergando é que não devem ocorrer as quedas esperadas para o período.