Em meio ao avanço de preços de alimentos, o Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de cortes na taxa básica de juro. Nesta quarta-feira (16), o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) manteve a Selic em 2% ao ano, depois de nove reduções consecutivas. Com a decisão, a taxa permanece no menor nível já registrado no país.
O quadro impacta investimentos pessoais e não gera animação para quem mantém dinheiro em aplicações de renda fixa. Isso ocorre porque a Selic serve de referência para opções como a caderneta de poupança. Ou seja, a taxa na mínima histórica deixa essas aplicações menos atrativas, com ganhos menores.
Nos últimos anos, os cortes na Selic estimularam a ida de mais investidores para a renda variável, que pode incluir ações de empresas negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3. Em agosto, o número de contas de gaúchos na bolsa alcançou a marca de 165,1 mil. Ou seja, mais do que dobrou no intervalo de um ano. Em agosto de 2019, eram 76,9 mil.
Com investimentos em ações, há possibilidade de ganhos superiores aos da renda fixa, mas também existe uma série de riscos envolvidos. Em um dia, os papéis de uma empresa podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude. O sobe e desce é conhecido como volatilidade.
Por isso, especialistas recomendam cautela a quem deseja mudar seu perfil e migrar para a renda variável. Procurar conhecimento e auxílio de profissionais especializados no mercado financeiro pode ajudar.
Coordenadora do curso de Administração da Unisinos, Emanuelle Smaniotto afirma que, antes de escolher novas aplicações, cada pessoa deve entender qual é seu perfil de investidor — mais conservador ou adepto a maiores riscos:
— Estamos vendo um aumento na quantidade de investidores na bolsa. Mas a maioria dos brasileiros não tem perfil para esse tipo de aplicação. E a bolsa não é a única opção para quem quer maior rendimento. O ideal é buscar conhecimento antes.
Planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), Rafael Pires menciona que diversificar aplicações é uma forma de evitar prejuízos. Ou seja, a ideia é depositar recursos em mais de um tipo de investimento, e não concentrar todo o dinheiro disponível em uma só alternativa.
— Para conter riscos, a palavra é diversificação — reforça Pires.
Segundo ele, opções como a poupança servem hoje mais para reservas de emergência. Por exemplo, a caderneta pode reunir recursos necessários para pagamento de aluguel em caso de perda de emprego, diz Pires.
O planejador ressalta que, além da poupança, a renda fixa também reúne opções como fundos de investimento. Mas, nesse caso, há tributação de imposto de renda, além da possibilidade de cobrança de taxas de administração.
Então, a saída seria buscar fundos de renda fixa com taxas menores ou sem esse tipo de cobrança junto a bancos e corretoras. A poupança é mais atrativa, principalmente, do que aqueles com taxas de administração superiores a 1% ao ano, indica a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) — veja simulações abaixo.
Para quem busca maior retorno, uma das opções disponíveis é formada pelos fundos multimercados, acrescenta Emanuelle. Esse tipo de aplicação pode reunir tanto produtos de renda fixa quanto de variável, incluindo ações de empresas.
— Com a Selic em baixa, mudou muito a referência de investimentos no Brasil — conclui a professora.
Como ficaria aplicação de R$ 10 mil em 12 meses na renda fixa
Com a Selic estável em 2% ao ano
Poupança antiga
Rendimento: R$ 617
Total aplicado: R$ 10.617
Poupança nova
Rendimento: R$ 140
Total aplicado: R$ 10.140
Fundo de investimento com taxa de administração de 0,5% ao ano
Rendimento: R$ 109
Total aplicado: R$ 10.109
Fundo de investimento com taxa de administração de 1% ao ano
Rendimento: R$ 84
Total aplicado: R$ 10.084
Fundo de investimento com taxa de administração de 1,5% ao ano
Rendimento: R$ 72
Total aplicado: R$ 10.072
Fonte: Anefac