A inflação é medida de tantas formas e em tantas datas (veja quadro explicativo abaixo) que causa até confusão, mas cada indicador tem seu papel. Pesquisado pela Fundação Getulio Vargas, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) decolou de 1,85%, na primeira prévia de agosto, para 6,14% em setembro.
Isso significa que ainda há risco de novas altas antes que o preços "se acomodem", como projetou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
O dado do IPA impressionou os economistas porque é o maior resultado desde julho de 1994, mês de estreia do Plano Real, quando ainda eram "normais" altas de 17,95%, como a daquele mês. Como havia alertado à coluna André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, a pressão veio do minério de ferro (20,08%) e soja (11,48%). Os alimentos processados saltaram 6,01%, depois de subir 1,92% no período anterior.
O IPA faz parte da chamada primeira prévia do IGP-M, divulgada nesta quinta-feira (10), porque tem informações colhidas no período de 21 a 30 do mês anterior ao de referência, no caso, agosto. O indicador completo, do qual o IPA é a parte mais relevante, subiu 4,41% em setembro, ante 1,46% do mês anterior.
Conforme André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, é uma alta relevante, que pode encerrar de vez o ciclo de cortes na taxa de juro. Avalia que a diferença entre o índice do produtor e o do consumidor, que ficou em apenas 0,35% no período, aponta queda na margem de lucro empresarial. E afirma que, por mais que a inflação não seja um problema agora, o IPA elevado aponta para altas futuras para o consumidor.
Será recessão com inflação?
A alta da cesta básica levantou um debate: o Brasil tem um raro caso de recessão com inflação? Em períodos de baixa atividade econômica, não é normal haver pressão nos preços, por falta de capacidade do consumidor de absorver aumentos. Embora esteja ocorrendo o que os economistas chamam de "choque de oferta" (os preços subiram porque há escassez de produtos), o auxílio emergencial, que elevou a renda dos mais pobres, também teve peso, como reconheceu o secretário de Política Econômica do Ministério da Economa, Adolfo Sachsida.
Embora alguns economistas rejeitem chamar de "inflação" o atual fenômeno, por não representar aumento sistemático de preços ao longo do tempo – definição clássica da palavra –, o professor Ely Mattos, da Escola de Negócios da PUCRs, diz não ver razão para não usar o termo. A discussão que está aberta, pondera, é exatamente sobre a sustentação desses aumentos ao longo do tempo. No caso das altas provocadas pelo câmbio, como arroz e leite, projeta “pressão mais persistente”:
– Temos um processo inflacionário, sim. Mas ainda é cedo para avaliar se será persistente. Por isso, também é prematuro para avaliar se o que temos é recessão com inflação.
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.