Estimulada pelo juro básico na mínima histórica, a procura por aplicações na bolsa de valores brasileira, a B3, segue em disparada durante a pandemia. Em julho, o número de contas mantidas por investidores gaúchos alcançou a marca de 157,2 mil. Representa alta de 66,3% em relação a dezembro de 2019 (94,5 mil).
Ou seja, ao longo dos últimos sete meses, o Rio Grande do Sul foi responsável por quase 62,7 mil novos registros. A marca é similar à capacidade de um estádio como a Arena do Grêmio (60,5 mil lugares).
Na comparação com julho do ano passado (71,3 mil), o número mais do que dobrou, com elevação de 120,5%. Segundo a B3, o Estado é o quarto com mais investidores. Está atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Os números levam em conta CPFs cadastrados nas corretoras, responsáveis por intermediar a compra e venda de ações de empresas na B3. Isso significa que a mesma pessoa física pode ser contabilizada mais de uma vez caso tenha vínculo com mais de uma agente financeira.
A alta verificada entre os gaúchos espelha o cenário nacional. Em julho, o número de investidores chegou a 2,8 milhões no país. Corresponde a avanço de 68,2% em relação a dezembro. Ou seja, houve cerca de 1,1 milhão de novos registros ao longo de 2020.
O crescimento coincide com o ciclo de cortes na taxa básica de juro. Neste mês, a Selic voltou a cair, atingindo a marca de 2% ao ano. Em 2016, antes de o Banco Central (BC) retomar as reduções, a taxa estava em 14,25%.
O juro na mínima histórica tem reflexos diretos nos investimentos pessoais, porque diminui o retorno de aplicações de renda fixa, como é o caso da caderneta de poupança. Nesse cenário, opções de renda variável, como compra e venda de ações na bolsa, tendem a atrair mais interessados, com a chance de ganhos superiores.
— As pessoas estão buscando maior rentabilidade — pontua o educador financeiro Leandro Rassier, professor da PUCRS.
Apesar da possibilidade de ganhos robustos, investir em ações também embute riscos. Em um dia, a bolsa pode subir bastante. Na sessão seguinte, cair em intensidade igual ou maior. Logo, buscar conhecimento e auxílio de profissionais especializados tende a ser útil.
— Antes, investidores tinham segurança e retorno na renda fixa. Era o melhor dos mundos. Isso muda com a Selic em 2% ao ano — afirma Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Outro fator apontado como responsável por levar mais gente à bolsa é a publicação de conteúdos sobre o mercado financeiro na internet. Na visão de especialistas, esse fenômeno tende a despertar a atenção de grupos como os jovens.
Conforme a B3, pessoas com 26 a 35 anos representavam 33,7% dos investidores na bolsa em julho, o que corresponde a 952,8 mil registros. É a faixa etária mais volumosa no mercado brasileiro.
— Existe muito conhecimento divulgado de forma gratuita na internet. Muitas pessoas não conheciam a bolsa. A partir do momento em que o retorno da renda fixa caiu, passaram a buscar novas alternativas — diz Adriano Severo, assessor de investimentos da Severo Educação Financeira.
Formado em Contabilidade, Stefan Hasse de Sousa, 29 anos, faz parte do grupo que migrou recentemente para a bolsa. A decisão ocorreu após o morador de São Paulo pesquisar sobre a compra e venda de ações de empresas.
— Antes, para ser sincero, tinha um pouco de preguiça. Deixava de lado o assunto. Mas aí percebi que alguns amigos estavam com um bom retorno e passei a me interessar mais. A ideia é seguir na bolsa e aumentar minha participação — relata o investidor, que viveu dos seis aos 24 anos em Porto Alegre.
Nesta terça-feira (18), o índice Ibovespa, que reflete a variação das principais ações na B3, fechou em alta de 2,48%, aos 102.065 pontos. A sinalização de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecerá no cargo trouxe alívio ao mercado.
Para entender
O que é a bolsa de valores?
É o espaço em que investidores podem comprar e vender ações de empresas. No Brasil, a bolsa que está em operação é a B3 (anteriormente chamada de Bovespa), com sede em São Paulo.
Como investir na bolsa?
É preciso que o interessado se cadastre em uma corretora registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, pode abrir uma conta para iniciar as aplicações.
O que são as ações?
São pequenas partes de uma empresa. Ao abrir seu capital, uma companhia o divide em várias ações, oferecidas na bolsa a possíveis investidores. Quanto mais papéis eles comprarem, maior será a parcela na empresa.
Quais são os tipos de ações?
-Ordinárias: dão direito a voto em assembleias que debatem os rumos das empresas.
-Preferenciais: não concedem direito a voto em assembleias, mas garantem preferência no recebimento de dividendos — parcelas do lucro das companhias.
Há valor mínimo de investimento?
Não há valor mínimo. A quantia varia em cada caso, dependendo, por exemplo, do preço das ações de cada empresa.
O que é o índice Ibovespa?
É o principal índice da bolsa. Sua variação é calculada com base no desempenho das ações de grandes empresas listadas no mercado brasileiro. Quando se diz que a bolsa teve alta de 1% ao final de uma sessão, é porque o valor do Ibovespa, em pontos, também aumentou 1%.
Há riscos nos investimentos?
Sim. Investir na bolsa tem riscos. Ações de empresas podem resultar em maiores rendimentos do que opções de renda fixa, como a poupança, mas também há chance de perdas. Por quê? Em um dia, os papéis de uma companhia podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude. O sobe e desce é conhecido como volatilidade.