Em meio à crise provocada pelo coronavírus, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a cortar a taxa básica de juro. Nesta quarta-feira (5), o colegiado reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano. Com a queda, a taxa renovou a mínima histórica.
A Selic é referência para aplicações financeiras de renda fixa. Ou seja, quando está em nível baixo, os ganhos de investimentos como a caderneta de poupança também diminuem.
A situação pode servir de estímulo à procura por opções de renda variável, incluindo ações de empresas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Nesse caso, há possibilidade de rendimentos maiores, mas também existe uma série de riscos envolvidos.
Em um dia, ações de uma companhia podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude. O sobe e desce é conhecido como volatilidade. Por isso, especialistas recomendam cautela a quem deseja mudar o perfil de investidor e migrar para a renda variável. Buscar conhecimento e auxílio de profissionais especializados no mercado financeiro pode ajudar.
— Com a Selic em baixa, a renda fixa serve para proteger recursos. A variável é para fazer crescer o patrimônio. Para quem deseja conhecê-la, o ideal é migrar aos poucos, e jamais aplicar todo o dinheiro de uma vez só — relata o educador financeiro Adriano Severo, da Severo Educação Financeira.
Uma das principais sugestões de especialistas é construir uma carteira variada de investimentos. Com mais opções, o risco de grandes prejuízos diminui. Nesse sentido, existem fundos que combinam, por exemplo, aplicações de renda fixa e variável, lembra Severo.
— As pessoas devem entender que o perfil de investidor pode mudar ao longo do tempo — pontua.
Para quem prefere permanecer na renda fixa, mesmo com a Selic em baixa, a poupança tende a apresentar resultados mais satisfatórios do que algumas aplicações, indica a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Segundo a entidade, a caderneta será mais atrativa do que fundos de renda fixa, especialmente aqueles com maiores taxas de administração (veja simulações abaixo). Isso ocorre porque a poupança tem seu ganho garantido por lei e não sofre tributação do imposto de renda.
Como ficaria aplicação de R$ 10 mil em 12 meses na renda fixa
Com a Selic estável em 2% ao ano
Poupança antiga
Rendimento: R$ 617
Total aplicado: R$ 10.617
Poupança nova
Rendimento: R$ 175
Total aplicado: R$ 10.175
Fundo de investimento com taxa de administração de 0,5% ao ano
Rendimento: R$ 109
Total aplicado: R$ 10.109
Fundo de investimento com taxa de administração de 1% ao ano
Rendimento: R$ 84
Total aplicado: R$ 10.084
Fonte: Anefac
Impacto no crédito
Ao baixar a Selic para 2% ao ano, o Copom também altera o custo de financiamentos voltados a empresas e consumidores. Isso ocorre porque a taxa básica de juro serve de referência para as linhas de crédito oferecidas por bancos e demais instituições financeiras no país.
A diferença, entretanto, não é tão expressiva neste momento, pondera a Anefac (veja simulações abaixo). Em momentos de crise, como é o caso atual, bancos enxergam maiores riscos no cenário, com alta no desemprego e na inadimplência. Assim, tendem a turbinar exigências antes de conceder ou não empréstimos.
Compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil
Juro do comércio, em média, para pessoa física, em financiamento de 12 meses
Com Selic de 2,25%
Taxa mensal: 4,72%
Valor da parcela: R$ 166,58
Total pago: R$ 1.998,91
Com Selic de 2%
Taxa mensal: 4,70%
Valor da parcela: R$ 166,39
Total pago: R$ 1.996,64
Redução por mês: R$ 0,19
Redução total: R$ 2,27
Cheque especial
Uso por 20 dias de R$ 1 mil
Com Selic de 2,25%
Taxa mensal: 7,13%
Valor do juro: R$ 47,53
Com Selic de 2%
Taxa mensal: 7,11%
Valor do juro: R$ 47,40
Redução de R$ 0,13
Empréstimo de capital de giro para empresa
Pelo prazo de 90 dias, no valor de R$ 50 mil
Com Selic de 2,25%
Taxa mensal: 1,11%
Juro pago: R$ 1.683,55
Com Selic de 2%
Taxa mensal: 1,09%
Juro pago: R$ 1.652,89
Redução de R$ 30,66
Fonte: Anefac