Diante da crise provocada pelo coronavírus, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a cortar a taxa básica de juro, na tentativa de estimular a economia. Em reunião encerrada nesta quarta-feira (5), o colegiado confirmou, por unanimidade, baixa de 0,25 ponto percentual na Selic. Com a decisão, a taxa cai para 2% ao ano, renovando a mínima histórica. Trata-se do nono recuo consecutivo.
Em comunicado após o encontro, o comitê reconhece que o espaço para novos cortes é "pequeno". Entretanto, não descarta a possibilidade de confirmar novas baixas nas próximas reuniões.
"O Copom entende que a conjuntura continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno", pontua o colegiado.
"Consequentemente, eventuais ajustes futuros ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal", acrescenta.
A Selic em nível baixo pode servir de estímulo à economia por ser referência para linhas de crédito no país. Ou seja, ao reduzi-la, o Copom busca diminuir o custo de financiamentos. Entretanto, analistas ponderam que, em meio à pandemia, o corte não deve ser sentido com tanta força por consumidores e empresas.
Em momentos de crise, bancos enxergam maiores riscos no cenário, como alta no desemprego e na inadimplência. Assim, tendem a turbinar exigências antes de conceder ou não empréstimos.
— O efeito da redução, sozinha, é muito pequeno. A sucessão de cortes, sim, tem impacto maior. Mesmo assim, as taxas de juro para o consumidor devem permanecer altas no país, em meio ao cenário de riscos — avalia Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Fatores como a elevada concentração bancária também dificultam a situação para os consumidores, ressalta o economista Fábio Astrauskas, CEO da Siegen Consultoria e professor do Insper:
— A concorrência vem aumentando, mas aos poucos, com a entrada de fintechs (empresas de tecnologia financeira) no mercado.
O corte de 0,25 ponto percentual era aguardado pelo mercado financeiro — a grande expectativa era saber se o Copom fecharia ou não a porta para novas baixas. Além da necessidade de estímulos à economia brasileira, a inflação em nível comportado também pesou na decisão do colegiado.
Até o final do ano, o comitê terá mais três encontros. O próximo está marcado para meados de setembro.