Aos poucos, a economia gaúcha sinaliza que o pior estágio da crise do coronavírus ficou no retrovisor. Mesmo assim, o alto nível de estragos causados pela pandemia e as incertezas dos próximos meses ainda preocupam — e muito — especialistas. Ou seja, há uma espécie de alento, embora o alerta continue ligado.
Nesta quinta-feira (13), a divulgação de indicador sobre o segmento de serviços, o motor da economia, reforçou essa visão a respeito do cenário gaúcho. Em junho, o volume dos negócios do setor cresceu 6,6% na comparação com maio, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a segunda alta consecutiva após tombos de 11,6% e 17,9% em março e abril.
Com o impacto do coronavírus, o setor acumulou queda de 14,4% no primeiro semestre. A retração gaúcha foi superior à baixa registrada, em média, no Brasil (8,3%).
— Os números indicam que deixamos o fundo do poço, mas não sabemos ainda a velocidade de subida — define o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre. — Temos de aguardar para ver se haverá ou não novo fechamento da economia, além de observar a dinâmica do vírus enquanto não existir uma vacina — completa.
A exemplo de serviços, a produção industrial também subiu em junho, na comparação com maio. Conforme números apresentados pelo IBGE nesta semana, o indicador teve alta de 12,6%, a segunda consecutiva, mas ainda não recuperou as perdas geradas pela covid-19. No primeiro semestre, a produção das fábricas do Estado amargou baixa de 15,8% — maior do que a de serviços.
Outro dado divulgado nesta semana pelo IBGE, as vendas do comércio varejista tiveram comportamento diferente dos demais em junho, com baixa de 9% no Rio Grande do Sul, ante maio. Contudo, no quinto mês do ano, o setor havia avançado 31,9%. Em junho, devido a aumento nos casos de coronavírus, o setor foi abalado por novo fechamento de lojas em municípios como Porto Alegre.
No primeiro semestre, as vendas do comércio, a exemplo dos demais segmentos, ficaram no vermelho, com queda de 2,3%. O que chama atenção é que a baixa registrada pelo setor foi menor do que a sentida por serviços e indústria entre janeiro e junho.
Professor de Economia da UFRGS, Marcelo Portugal avalia que o desempenho semestral do varejo reflete uma combinação de fatores. Mas pondera que há situações diversas dentro do setor:
— A pesquisa do IBGE contempla empresas com 20 ou mais funcionários. Grande parte do comércio tem menos empregados. Além disso, houve lojas que se adequaram para vender online. Por fim, os supermercados não pararam de funcionar e conseguiram captar vendas de outros ramos do comércio. Por exemplo, uma pessoa não tinha como comprar uma televisão porque a loja estava fechada, mas conseguiu comprá-la em um supermercado.
Além da pandemia, a economia gaúcha foi abalada no primeiro semestre pela estiagem. E o Rio Grande do Sul é justamente um dos expoentes da agropecuária no país. Ou seja, o campo tem mais peso no Estado do que em outras regiões brasileiras.
No segundo semestre, com a perspectiva de maior abertura da economia, o Rio Grande do Sul deve sentir "alguma recuperação", pontua Portugal. Entretanto, o cenário está distante de causar otimismo em razão da herança que a covid-19 deve deixar, como o aumento no desemprego. Além disso, lembra o professor, medidas como o auxílio emergencial do governo federal caminham para o fim.
— Vai levar algum tempo até que o setor produtivo consiga alcançar uma normalidade — ressalta Portugal.
Questões como a turbulência na área política também podem impactar novamente os negócios, menciona Pesavento:
— Há questões estruturais que o Brasil ainda não resolveu. Como ficarão as reformas? Isso vai influenciar a economia.
Tombo nos serviços às famílias
O volume do setor de serviços teve alta em 21 das 27 unidades da federação em junho, na comparação com maio, informou o IBGE. O avanço registrado no Rio Grande do Sul, de 6,6%, foi superior à média nacional do período. No país, o crescimento chegou a 5%.
Já em relação a junho do ano passado, a situação se inverte, em um claro exemplo dos impactos da crise do coronavírus. No Rio Grande do Sul, o segmento de serviços amargou queda de 17,2%. Enquanto isso, no Brasil, a redução foi menor, de 12,1%, ante junho de 2019.
Nesse tipo de comparação, o IBGE também informa os dados estaduais por ramos que compõem o setor de serviços. Houve queda nos cinco grupos pesquisados no Rio Grande do Sul.
A maior foi a de serviços prestados às famílias. O grupo amargou tombo de 56,1%. Segundo o IBGE, essa parcela contempla atividades como as de hotéis e restaurantes. A segunda maior queda, de 17,5%, foi a do grupo de outros serviços, que reúne número amplo de segmentos, de mercado imobiliário a operações financeiras.
A menor baixa foi a de serviços de comunicação e informação. O recuo atingiu 9,6% ante igual período de 2019, diz o IBGE.
No intervalo de 12 meses até junho, o setor de serviços acumulou retração de 8,1% no Estado. No país, a queda ficou em patamar inferior, de 3,3%.
O setor de serviços é o principal do Produto Interno Bruto (PIB) no país. Com divulgação trimestral, o PIB é conhecido como a soma das riquezas produzidas em determinada região. O resultado brasileiro, referente ao período de abril a junho, será conhecido na largada de setembro.