Após ser atingida em cheio pela pandemia de coronavírus, a produção industrial deu mais um passo em sua tentativa de retomada no Rio Grande do Sul. Em junho, o indicador teve alta de 12,6% na comparação com maio.
Trata-se do segundo avanço consecutivo depois da queda histórica de 21,7% em abril, apontam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento gaúcho foi o terceiro maior do país e ficou acima da média nacional (8,9%).
Na visão de economistas, o resultado traz alívio e sinaliza que o pior estágio da crise pode ter ficado para trás. Entretanto, não espanta toda a preocupação que ronda as fábricas. Prova disso é que, mesmo com a segunda alta consecutiva, o indicador não recuperou todas as perdas causadas pela covid-19. Para os próximos meses, incertezas relacionadas ao vírus seguem no radar.
— O resultado veio em linha com a melhora na demanda. Depois da parada abrupta, a produção começou a reagir paulatinamente. Acredito na continuidade da recuperação nos próximos meses, mas com uma taxa de expansão menor. Veremos impactos permanentes da pandemia, como investimentos postergados e aumento do desemprego — pondera André Nunes de Nunes, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
Os estragos causados pelo coronavírus podem ser dimensionados, em parte, pelos demais indicadores gaúchos apresentados pelo IBGE. No acumulado do primeiro semestre, a produção industrial amargou baixa de 15,8%. Em 12 meses, o recuo atingiu 8,9%. Já na comparação entre junho deste ano e igual mês de 2019, o Estado registrou queda de 12,2%. Nesse tipo de recorte, o Brasil também teve contração, mas em nível inferior, de 9%.
— Na comparação com maio, o resultado foi positivo. Traz um alento, sinaliza que o fundo do poço passou. Mas, no geral, o desempenho da produção é negativo. É difícil projetar o futuro para a indústria enquanto o número de casos de coronavírus segue crescendo no Estado — avalia o economista Adelar Fochezatto, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
O levantamento do IBGE reúne dados por setores na comparação de junho com o mesmo período de 2019. Nesse recorte, dos 14 ramos pesquisados, sete apresentaram desempenho positivo. A atividade com melhor resultado foi a fabricação de bebidas, com salto de 39% na produção. Em seguida, aparecem produtos de fumo (6,9%) e celulose e papel (6,3%).
Na outra ponta, estão dois segmentos que colecionam números negativos desde o início da pandemia. O maior tombo, de 50%, foi o de produtos de couro, artigos para viagem e calçados. Com a paralisação do comércio e a queda no mercado internacional, o setor encontrou dificuldades para fechar negócios nos últimos meses. O ramo de veículos, reboques e carrocerias teve a segunda maior contração, de 48,2%, no Rio Grande do Sul.
O Amazonas foi a região com melhor desempenho na passagem de maio para junho. Por lá, a produção industrial saltou 65,7%. No início da pandemia, o Estado esteve entre os mais impactados pela covid-19. Agora, é o primeiro a voltar ao nível de produção anterior ao coronavírus, conforme o IBGE. O Ceará teve a segunda maior alta no período (39,2%).
Novo recuo nas exportações
A indústria gaúcha continua esbarrando em obstáculos no cenário internacional. Em julho, as exportações do setor caíram 17,7% em relação ao mesmo período de 2019, para US$ 956,4 milhões. No acumulado dos sete primeiros meses, o setor também está em desaceleração. De janeiro a julho, os embarques registraram baixa de 21,5%, para US$ 5,7 bilhões.
Os números foram divulgados nesta terça-feira pela Fiergs. Em nota, o presidente da entidade, Gilberto Porcello Petry, ressalta que as dificuldades são reflexos do avanço do coronavírus. "O resultado revela os enormes prejuízos provocados mundialmente pela parada na economia, intensificando as quedas no comércio exterior", menciona o dirigente empresarial.
Conforme a Fiergs, 19 dos 23 setores pesquisados apresentaram baixa nas exportações em julho. Os maiores recuos vieram dos segmentos de veículos automotores (41,3%), produtos químicos (41,2%) e couro e calçados (39,5%).
— O Rio Grande do Sul depende muito do comércio exterior. Somos um Estado exportador. Mas os dados trazem uma sinalização negativa — pontua o economista Adelar Fochezatto, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
Além de prejudicar as exportações, a pandemia impacta as importações feitas por indústrias gaúchas. Segundo a Fiergs, as fábricas do Rio Grande do Sul importaram mercadorias no valor de US$ 715,6 milhões em julho, tombo de 41,5% ante igual período do ano passado.
No acumulado de 2020, esses negócios somam US$ 4 bilhões, o que representa contração de 27,6% frente ao mesmo intervalo de 2019. Nos primeiros sete meses deste ano, com exceção de combustíveis e lubrificantes, as demais categorias apresentam "reduções significativas", sublinha a Fiergs.