O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Golpeada pela crise do coronavírus, a indústria calçadista quer evitar novo tropeço mais à frente. Nos últimos dias, empresários iniciaram mobilização para renovar a política antidumping aplicada contra produtos da China. Ou seja, fábricas brasileiras desejam ampliar o prazo de vigência da sobretaxa que atinge os calçados vindos do país asiático.
Em vigor desde a passagem de 2009 para 2010, a política deve terminar em março de 2021, caso não seja renovada pelo governo federal. Ações antidumping buscam evitar que mercadorias importadas sejam negociadas com preços inferiores aos do mercado em questão.
Hoje, para cada calçado comprado da China, é aplicada sobretaxa de US$ 10,22 como forma de defesa comercial, além de tarifa de importação, relata a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Com sede em Novo Hamburgo, a entidade está à frente da mobilização empresarial. Segundo a Abicalçados, o Rio Grande do Sul segue como a principal referência do setor no país. O Estado responde por 22% do total produzido e por 46% das receitas geradas com exportações.
– Estamos levantando dados para protocolar pedido junto ao Ministério da Economia. Há uma preocupação do setor, estamos em uma crise. Não podemos deixar de pleitear uma renovação pelo menos até que o país consiga fazer o tema de casa. Esse tema de casa é a redução do custo Brasil (obstáculos históricos que deixam mercadorias nacionais menos competitivas) – pontua Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.
Além da renovação da política que atinge os produtos chineses, os empresários também desejam a criação de processo similar contra itens fabricados no Vietnã e na Indonésia. Conforme a Abicalçados, em razão da sobretaxa contra as mercadorias chinesas, houve uma espécie de migração nos negócios para os outros dois países.
A entidade afirma que, em 2008, a importação de calçados do Vietnã e da Indonésia era equivalente a US$ 62,6 milhões. Em 2010, o número pulou para US$ 192,2 milhões. Em 2019, chegou a US$ 264,4 milhões.
Em meio à pandemia, a indústria calçadista amarga destruição de empregos. Nas últimas semanas, o movimento até perdeu força, mas ainda causa preocupação. No primeiro semestre, o setor fechou 44 mil vagas no país. Do total, 14,7 mil no Rio Grande do Sul. É a maior quantidade entre os Estados.