Virtual, o ato de 1º de Maio organizado pelas principais centrais sindicais do país será marcado por exibir mensagens de políticos de amplo espectro político. Gravaram vídeos para a ocasião os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bem como os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Após 31 anos, FHC e Lula voltaram a dividir o palanque. A última vez foi na reta final do segundo turno de 1989, quando o tucano apoiou Lula contra Fernando Collor, que acabou sendo eleito.
Em 1978, Lula chegou a fazer campanha para FHC na disputa para o Senado. Já em 1984, os dois participaram das Diretas Já.
Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro, tucano e petista pregaram união em defesa da liberdade. Para Lula, "a história ensina que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações".
— Mas as grandes tragédias também são reveladoras do verdadeiro caráter das pessoas e das coisas. Não me refiro apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de 5 mil brasileiros mortos pela covid-19. A pandemia deixou o capitalismo nu — afirmou o ex-presidente.
De pé e vestindo camisa social, Lula disse ainda que o ódio e a ignorância se alimentam um do outro e são o oposto do que está na alma brasileira. Segundo ele, a crise revelou o brasileiro é generoso, tolerante e solidário:
— É com esse espírito, com essa alegria, essa criatividade, que estamos todos lutando para sair das trevas.
Para FHC, o Brasil enfrenta um momento de medo, da pandemia e do desemprego. Daí, a realização de um ato unificado.
— Não é hora de nos desunirmos. É hora de nos juntarmos porque temos que construir um futuro. O futuro tem que ser construído a partir das condições do presente. São negativas, eu sei, mas são as que nós temos — afirmou FHC, pregando a "capacidade de olhar para frente, acreditar no futuro e juntar as pessoas para que possam marchar juntas".
Sentado no sofá e calçando meias vermelhas, o tucano disse que a data é cheia de significados e é necessário enfrentar problemas que são novos.
— Temos que manter a democracia, a liberdade. As tarefas são muitas, e só com união se consegue superá-las — disse.
Desafeto de FHC, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) também ocupou esse palco virtual. Sem citar o nome de Bolsonaro, Ciro alertou para o risco de desmonte de direitos trabalhistas e disse que "o Brasil contava com mais de 13 milhões de desempregados ainda antes da crise do coronavírus e mais de 38 milhões de pessoas estavam obrigadas a viver a dura realidade da informalidade e sem nenhuma proteção".
— Desejo que esse 1º de Maio, apesar de tanta aflição e angústia, ajude a levantar o nosso querido povo brasileiro e possamos ser capazes de organizar essa luta e reconquistar os nossos direitos — afirmou.
Adversária de Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial, a ex-ministra Marina Silva (Rede) disse que esse "é o 1º de Maio mais difícil desse século em função dos problemas que já estávamos sofrendo com desemprego, as injustiças sociais e agora todas essas questões sendo agravadas de forma assustadora pela pandemia do novo coronavírus".
Também sem mencionar Bolsonaro, Marina defendeu "que não se permita que qualquer governo com delírios autoritários queira retomar o processo de "É fundamental que a gente esteja unido em torno daquilo que é essencial: a defesa da vida, a proteção dos direitos e a defesa de nossa democracia".
A ex-presidente Dilma Rousseff falou em unidade, acusou o governo federal de omissão e encerrou sua intervenção pregando "fora, Bolsonaro".
Convidados pela organização, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, no entanto, desistiram de mandar recado aos trabalhadores, embora seus nomes já constassem da grade de programação.
Veja o recado gravado pelos políticos
Lula:
"O que eu espero é que o mundo, depois do coronavírus, seja uma comunidade universal"
Ciro Gomes:
"Precisamos, tão logo passe essa crise, refletir o que aconteceu com o Brasil para chegarmos onde chegamos e, em paralelo, construir as bases de um novo projeto nacional de desenvolvimento."
Fernando Henrique Cardoso:
"O futuro tem que ser construído a partir das condições do futuro. São negativas, eu sei, mas são as que nós temos."
Marina Silva
"Nesse 1º de maio, temos que estar unidos em torno daquilo que mais interessa: a defesa da vida, a proteção dos direitos e a defesa da democracia."