O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou ter provas que mostram a tentativa de interferência indevida do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF), como destacou ao deixar o cargo, na semana passada. Em entrevista exclusiva à revista Veja, Moro disse que vai apresentar essas provas assim que for instado pela Justiça. O ex-juiz da Lava-Jato saiu da pasta após o presidente efetuar troca no comando da PF.
Nesta quinta-feira (30), poucas horas após a entrevista ser publicada, foi divulgado que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello determinou que a PF ouça Moro no âmbito do inquérito que investiga as acusações. Mello é relator da ação na Casa.
Na entrevista, o ex-juiz também afirmou que “o combate à corrupção não é prioridade do governo”.
Segundo Moro, aos poucos ele foi percebendo isso com atos como a transferência do Coaf para o Ministério da Economia e a falta de apoio em pontos do projeto anticrime. O ex-juiz também relatou que ficou incomodado quando observou o chefe do Executivo se aproximando de políticos suspeitos.
Questionado se sofreu algum tipo de intimidação após deixar o ministério e fazer as revelações sobre Bolsonaro, Moro afirmou que atacaram a esposa dele, confeccionando e distribuindo dossiês contra ela com informações falsas. O ex-ministro afirma que atos nesses moldes já haviam sido promovidos na época em que ele estava na Lava-Jato, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era alvo da Justiça.
No entendimento de Moro, o inquérito que investiga as acusações proferidas por ele também tem caráter intimidatório. Em parecer no âmbito desse processo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu que também fossem apurados os crimes de denunciação caluniosa e contra a honra, que, em tese, podem ter sido praticados por Moro. Em relação a esse ponto, o ex-juiz disse que está à disposição das autoridades.
Na entrevista, Moro também afirmou que não pensa em política neste momento. Ele destacou que sempre teve posição de se manter na área técnica e que pretende continuar buscando realizando esse tipo de trabalho no setor privado. “Não tenho nenhuma pretensão eleitoral. Não me filiei a partido algum. Nunca foi meu plano”, disse.