O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) voltou nesta terça-feira (28) a defender a renúncia e não o processo de impeachment como melhor saída para o país diante da mais recente crise política instaurada a partir da demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o tucano avaliou o momento como "grave" e disse que falta ao país um "sentimento de responsabilidade de estadista", uma pessoa que "olhe para o futuro".
A defesa de uma renúncia por parte de Jair Bolsonaro já havia sido explicitada por FHC ainda durante a sexta-feira, após a entrevista em que Moro anunciou sua demissão e acusou o presidente de ter protagonizado interferência política no comando da Polícia Federal.
- Eu acho que para nós todos seria melhor que ele (Bolsonaro) resolvesse ir embora, deixa o Mourão tomar conta - disparou, em alusão à situação em que o vice-presidente assumiria a chefia do Poder Executivo.
Sobre a personalidade do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, FHC avaliou se tratar de uma pessoa mais "tranquila" e, por isso, em melhores condições para conduzir o país.
- A gente precisa que o presidente da República tenha equilíbrio. Qualquer presidente do Brasil tem um poder simbólico muito grande. Ele fala, e ao falar tem peso. Quando a pessoa (Bolsonaro) fala de impróprio, de improviso, deixa o país meio atônito. Eu tenho a impressão que o Mourão é mais tranquilo. Comparativamente, entre o Bolsonaro e o Mourão, o Brasil fica mais tranquilo, me parece, com Mourão - afirmou.
Crime de Responsabilidade
Ao deixar o cargo, o ex-juiz Sergio Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal ao pressionar pela saída de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral. A acusação deu origem a pelo menos três pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados desde a semana passada. Além disso, outros pedidos contra Bolsonaro foram causados por sua participação nos atos pró-intervenção militar do último dia 19. Ontem, o ministro do STF Celso de Mello determinou também a abertura de inquérito para investigar possíveis crimes cometidos.
— Eu não sou bacharel (em Direito), não tenho a competência técnica para dizer. Se ele agiu dessa maneira (no caso da PF), é possível pensar em crime de responsabilidade. Mas depende da questão subjetiva. É um instrumento pra desgastar o presidente. Sobre o Moro, se ele diz isso, ele sabe a base que tem para dizer. Por isso as pessoas querem esclarecimento - acrescentou.