Após as instabilidades políticas que causaram a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e a saída do ministro da Justiça Sergio Moro, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC) avalia que Jair Bolsonaro está dando sinais de recuo. Em entrevista ao programa Timeline, o tucano citou movimentos mais recentes do chefe do Executivo em relação a seu primeiro escalão para afirmar que o presidente parece estar “tomando juízo”.
O cientista político também comentou os cenários de impeachment ou renúncia, qual seria o seu voto em uma possível disputa eleitoral entre Bolsonaro e Moro e as acusações do ex-titular do Ministério da Justiça contra o presidente.
Renúncia ou impeachment
Sobre eventuais cenários onde Bolsonaro deixaria a cadeira da Presidência da República, FHC afirmou que tanto o impeachment quanto a renúncia são processos dramáticos e traumáticos que prejudicam o país.
— Não conheço, não sei como ele (atual presidente) é como pessoa. Uns não aguentam e renunciam, mas outros são mais frios. Tenho a sensação de que ele tem momentos de estouros, não descarto a possibilidade de ele ver que está demais. Mas com sinceridade, pensando no Brasil: são processos traumáticos (renúncia ou impeachment). Melhor seria se ele tomasse juízo.
Destacando que sempre foi partidário da política de “aguentar um pouco com paciência”, o tucano afirmou que o melhor cenário no momento seria finalizar a atual gestão e se preparar para uma troca por meio das urnas:
— Que tenhamos força para colocar um candidato que seja razoável. Que entenda o Brasil, as dificuldades do mundo e que não fique fazendo bravata.
Caso a continuidade do governo se mostrasse inviável, FHC elenca a renúncia como melhor opção, pois é menos traumática do que o longo processo de impeachment.
Relação com os ministros
No entendimento de FHC, Bolsonaro parece ter começado a tomar juízo nos últimos dias. Ao exemplificar seu ponto de vista, citou o fato de o presidente recuar e dar força ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Na segunda-feira (27), em meio a boatos ventilados sobre possível pedido de demissão de Guedes, o chefe do Executivo afagou o ministro publicamente, dizendo que é o "homem que decide economia". Usando como exemplo os atritos recentes com as pastas da Saúde e da Economia, que resultaram na saída de ministros, FHC afirma que criar um “governo paralelo” não traz benefícios, ainda mais diante da crise.
— O ministro Mandetta estava na linha de frente na luta contra o coronavírus. Você tira de repente e põe o outro. Não conheço o Mandetta e nem o outro. É difícil ter outra orientação de repente. Não dá. A mesma coisa (acontece) com o ministro Moro, que simbolizava toda a Lava-Jato e a luta contra a corrupção. Agora, criar outro caso com o ministro Guedes. Parece que está brincando na beira do abismo — avaliou.
Acusações de Moro
Em relação aos pedidos de impeachment contra Bolsonaro com base nas afirmações de Moro sobre supostas interferências políticas de Bolsonaro na Polícia Federal (PF), FHC foi ponderado, mas destacou que o ex-juiz não seria leviano em acusações desse porte.
— Eu não sou bacharel (em Direito), não tenho a competência técnica para dizer. Se ele agiu dessa maneira (no caso da PF), é possível pensar em crime de responsabilidade. Mas depende da questão subjetiva. É um instrumento para desgastar o presidente. Sobre o Moro, se ele diz isso, ele sabe a base que tem para dizer. Por isso as pessoas querem esclarecimento.
Eleições
FHC destacou que o cargo de presidente exige no mínimo equilíbrio de quem o ocupa. O político afirmou que o chefe do Executivo pode perder a confiança da população diante de determinadas frases proferidas, que podem gerar ataques. Segundo FHC, o Brasil precisa de rumo, com um caminho no qual as pessoas confiam.
Questionado sobre um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Sergio Moro, FHC foi taxativo.
— Ah...Sergio Moro. Não tenha dúvidas.
Indicações por cargos
A indicação de Alexandre Ramagem, amigo dos filhos do presidente, para a direção da Polícia Federal (PF) causou polêmica nos últimos dias. Questionado sobre qual é a relação do presidente da República na indicação de cargos como a chefia da PF, FHC diz que tem de existir uma prudência em determinados postos de Estado, que têm interesses além da prestação de contas ao governo. .
— O presidente e os ministros têm de ser prudentes para evitar interpretações de que eles estão mexendo para beneficiar a, b ou c, ele próprio, sua família ou sei o quê.