As manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) que aconteceram neste domingo (19) em várias cidades do Brasil receberam críticas de autoridades políticas nas redes sociais. As mensagens de reprovação também foram direcionadas ao presidente Bolsonaro, que participou do protesto contra as instituições em Brasília.
O presidente da Câmara dos Deputados, um dos alvos dos protestos, Rodrigo Maia (DEM), disse que “defender a ditadura é estimular a desordem” e “flertar com o caos”. Para Maia, o Estado Democrático de Direito dá ao Brasil condições jurídicas de “avançar com transparência e justiça social”. O deputado carioca critica as manifestações por tentarem uma “ruptura democrática” e que isso é “uma crueldade imperdoável” no momento de sofrimento para as famílias de 2.462 vítimas fatais de covid-19 no país.
Acusado pelo próprio presidente Bolsonaro de querer prejudicar o poder executivo, Maia concluiu dizendo que é preciso continuar “ajudando os mais pobres, os que estão doentes esperando tratamento em UTIs e trabalhar para manter os empregos. Não há caminho fora da democracia”.
Às 20h10, o presidente Jair Bolsonaro compartilhou uma transmissão ao vivo na qual Roberto Jefferson afirma existir "um golpe iminente de Rodrigo Maia" contra ele. A live foi compartilhada no seu twitter oficial. Jefferson teve o mandato de deputado federal cassado em 2005, em meio à crise do mensalão.
Membro do STF, outra instituição atacada pelos manifestantes em faixas e gritos, o ministro Luis Roberto Barroso definiu o pedido pela volta da ditadura militar como assustador. Ele alerta que "ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso". Barroso reafirmou o próprio dever de defender a constituição e citou o norte-americano Martin Luther King, que lutou pela conquista de direitos humanos na década de 1960: "Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons."
Gilmar Mendes, ministro do STF, voltou-se para a ameaça à constituição que uma ditadura simboliza. Disse que a crise do coronavírus “só vai ser superada com responsabilidade política, união e solidariedade” e encerrou a mensagem com a hashtag “Ditadura nunca mais”, histórico lema latino-americano de repúdio aos regimes militares no continente. À coluna de Carolina Bahia, o ministro Marco Aurélio Mello afirmou que "não sabe onde o capitão está com a cabeça".
— Tempos estranhos! Não há espaço para retrocesso. Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior. Saudosistas inoportunos. As instituições estão funcionando.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz também suplicou por uma união de democratas em prol da liberdade brasileira, tida como ele como “bem maior” da democracia brasileira.
A Associação de Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) divulgou uma nota prometendo não silenciar diante dos ataques aos parâmetros democráticos e cobrou atitudes dos governos para diminuir os impactos da pandemia: “As medidas de distanciamento social produzem angústia, rompem com a normalidade de nossas vidas, e causam, à toda evidência, repercussões econômicas. Para isso que servem os governos: atender aos desassistidos pela crise, orientar e liderar pelo exemplo àqueles que se submeterão a sacrifícios.”
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB) chamou de "lamentável" a participação de Bolsonaro nos protestos e repudiou os ataques ao Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF).
"O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua democracia", concluiu.
O ex-presidente Lula (PT) também sugeriu o impeachment do atual. “A mesma Constituição que permite que um presidente seja eleito democraticamente têm mecanismos para impedir que ele conduza o país ao esfacelamento da democracia e a um genocídio da população”, declarou.
Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula no Palácio do Planalto, também lamentou a aparição de Bolsonaro no que ele chamou de “manifestações antidemocráticas”. FHC pediu união e foco na constituição na busca “pela liberdade e pelo Brasil”.
Líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede) apontou para o que seria segundo ele “a pior crise da nossa geração”, alertou para a capacidade do SUS e terminou criticando participação de Bolsonaro em protestos que atacaram instituições democráticas. “É patético!”, exclamou Rodrigues.
Candidato derrotado por Bolsonaro nas últimas eleições, Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de Sâo Paulo chamou o presidente de “verme”, perguntou “até quando os democratas suportarão tanta provocação, sem nada fazer?” e exclamou: “O dia do fora já chegou!”. Outro candidato que participou do pleito nacional de 2018, Ciro Gomes (PDT) definiu a participação de Bolsonaro como “gesto tresloucado” e chamou o presidente de “patife”. Marina Silva (Rede) também se manifestou: "A estratégia do presidente é confrontar ao máximo, na tentativa de criar uma situação de descontrole social, para por em prática sua execrável obsessão intervencionista".