Uma manifestação pedindo intervenção militar e fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) culminou em agressões e cerceamento ao trabalho da imprensa, na tarde deste domingo (19), em Porto Alegre.
Cerca de 200 apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ocupavam a frente do Comando Militar do Sul, no Centro Histórico, quando uma mulher usando máscara estampada com a frase “Fora Bolsonaro” ficou nua em cima da pilastra da Igreja Nossa Senhora das Dores. Ao descer da mureta, ela e três amigos, incluindo duas outras mulheres, foram perseguidos pelos manifestantes.
Encurralados junto ao muro de um prédio do Exército, eles foram agredidos a socos e pontapés. O repórter fotográfico Jefferson Botega, de GaúchaZH, também foi agredido por um manifestante. Com uma bandeira do Brasil às costas e chapéu de pierrot verde e amarelo, ele deu um tapa no equipamento de Botega enquanto fugia após agredir o grupo que acompanhava a jovem nua.
Os protestos e as agressões foram acompanhados à distância por militares do Exército e agentes de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) - não havia agentes da Brigada Militar no local. Em seguida, os agressores, acompanhados de um grupo maior de manifestantes, voltaram a intimidar a equipe de GaúchaZH. A pé e de bicicleta, eles cercaram os jornalistas e os ameaçaram, na tentativa de expulsá-los do local.
O protesto em frente ao Comando Militar do Sul reuniu adultos, idosos e crianças, boa parte sem máscara e desrespeitando as orientações de distância mínima de dois metros entre cada pessoa. Houve muitos abraços e apertos de mão, gente compartilhando o microfone sem desinfecção por álcool gel e conversas ao pé do ouvido. Nos discursos, os oradores pediam a prisão dos ministros do STF, do presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.
- A democracia é muito boa, nos traz muitas alegrias e emoções, mas agora estamos em guerra. Em guerra. Pedimos aos militares para fechar o Congresso e o Supremo, com Jair Bolsonaro presidente – repetia um dos ativistas.
Em meio aos manifestantes, havia quem pediu um novo Ato Institucional Nº 5 (AI-5). Editado em 1968, o AI-5 foi o mais severo conjunto de normas da ditadura militar e resultou no fechamento do Congresso, na suspensão do habeas corpus, na censura à imprensa e às liberdades individuais, com aumento das prisões políticas.
Pelo menos uma ocorrência por lesão corporal foi registrada na 1ª Delegacia de Polícia. Um mulher que passava pelo local, sem participar de qualquer ato contra ou a favor do governo, relatou ter sido agredida com um soco na boca por um dos manifestantes pró-Bolsonaro. O boletim de ocorrência será enviado à 17ª DP, responsável pela área, para investigação do crime.
Localizada por GaúchaZH, a vítima disse que estava passeando com quatro cães e um coelhinho, todos acomodados dentro de um carrinho de bebê, quando viu a confusão. Uma das mulheres que estava apanhando se aproximou, atraindo os agressores.
— Nem tive como sair dali. O senhor que me bateu estava pegando uma menina pelos cabelos, tinha outros dois homens batendo nela também. Eu falei “moço, o que é isso?”, dai ele soltou os cabelos dela e me deu um soco. Pegou em cheio na boca. Ele usava uma faixa na mão, não sei se era gesso. Mas doeu muito. Até agora ainda sai sangue. Eu já o identifiquei e ainda hoje estou indo fazer o (exame de) corpo de delito — afirmou.