O coronavírus deve provocar, em 2020, a maior recessão na economia mundial desde a depressão de 1929, aponta relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). Divulgado nesta terça-feira (14), o documento prevê tombo de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) global neste ano.
– Esta crise não se parece com nenhuma outra – pontuou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath.
Segundo o relatório, o Brasil não ficará imune à tempestade. Em 2020, o PIB nacional deve despencar 5,3%, indica o FMI. Ou seja, se a estimativa for confirmada, o país terá retração superior ao recuo mundial.
– A queda deve ser maior no Brasil porque a economia nacional já estava fragilizada antes do coronavírus. Precisávamos ter feito o dever de casa no início da década, o que envolve o ajuste fiscal. Estávamos empurrando as dificuldades internas com a barriga antes de a atual crise chegar – afirma Argemiro Brum, professor de economia internacional da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí).
Abalada pela pandemia, a Itália deve ter a maior queda em 2020. O FMI aponta que o PIB do país europeu tende a desabar 9,1%. Principal economia do planeta, os Estados Unidos seguiam trajetória de crescimento até a chegada do coronavírus, mas devem amargar retração de 5,9% no acumulado até dezembro.
A China, segunda potência mundial, tende a continuar no azul, com avanço previsto de 1,2%. Apesar de positiva, a estimativa sinaliza perda de fôlego em relação ao desempenho recente da gigante asiática.
– As projeções obrigam os países a adotar ações coordenadas para superar este momento de dificuldades. As medidas devem ser bem mais fortes do que na última crise internacional, de 2008 – frisa o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil.
O FMI estima que outras nações emergentes também terão perdas neste ano. A África do Sul, por exemplo, tende a apresentar retração semelhante à brasileira, de 5,8%. A vizinha Argentina, tradicional destino das exportações verde-amarelas, deve cair 5,7%.
– O grande impacto da crise é o aumento no desemprego, que já estava alto no Brasil. É preciso reconhecer que o governo federal vem adotando medidas para diminuir os prejuízos, mas as ações ainda são tímidas frente ao que outros países vêm fazendo – analisa Barral.
Na visão do FMI, depois da recessão em 2020, tanto a economia mundial quanto a brasileira tendem a reagir em seguida. Em 2021, o PIB global deve subir 5,8%, recompondo as perdas da crise. Já o Brasil pode avançar 2,9% no próximo ano, o que ainda não recuperaria todos os prejuízos do coronavírus.
Para minimizar os danos da pandemia, resta apenas uma saída ao governo federal, diz Brum. Na visão do professor, apesar das dificuldades fiscais, cabe ao Planalto elevar gastos públicos com medidas que busquem gerar fôlego a empresas e consumidores.
– A crise é inevitável. O ministro Paulo Guedes, por seu viés liberal, titubeou na largada da pandemia, com expectativa de conter o déficit fiscal do país. Só que agora o governo foi obrigado a abrir as torneiras. Teve de soltar dinheiro, não para recuperar a economia, mas para reduzir perdas – observa Brum.
Em seu relatório, o FMI também destacou a necessidade de os países avançarem em iniciativas de socorro. "As medidas necessárias para reduzir o contágio e proteger vidas afetarão a curto prazo a atividade econômica, mas também devem ser vistas como um investimento importante na saúde humana e econômica a longo prazo. A prioridade imediata é conter as consequências do surto de covid-19", pontua o FMI.