Sem sinais de trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve perder fôlego.
Ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral destaca que a economia brasileira é dependente, sobretudo, do mercado interno, mas pondera que o quadro externo adverso dificulta a saída da crise.
Em entrevista a GaúchaZH, o consultor avalia os impactos da desaceleração global.
O que chama atenção no cenário externo neste momento?
Já existia a projeção de que os Estados Unidos não seguiriam com o mesmo nível de crescimento dos últimos anos. A economia local estava muito aquecida. Naturalmente, teria perda de fôlego em seguida, por uma série de razões, como o grau de endividamento do Estado americano. Essa percepção foi agravada pela guerra comercial com a China. São as duas maiores economias do mundo. As medidas relacionadas à guerra comercial distorcem as cadeias de produção no planeta inteiro e geram muita incerteza. Além disso, a Europa tem crescimento pequeno desde 2009. Logo, sua contribuição para o comércio mundial também diminui.
O Brasil segue com dificuldades internas. O quanto o cenário global afeta a tentativa de retomada?
Tem peso, mas é preciso contemporizá-lo. A economia brasileira é muito dependente do mercado interno. Um terço do PIB nacional é afetado pelo comércio exterior, com importações e exportações. Então, mais do que qualquer outra coisa, há dependência muito grande da retomada do crescimento interno. O cenário externo mais imprevisível tem, pelo menos, dois aspectos muito negativos.
Quais?
A desvalorização do real frente ao dólar e o possível aumento de juro global. Combinados, os dois elementos não definiriam o nível de crescimento brasileiro, mas poderiam retardar muito a reação da economia. O Brasil ainda é um país de altos riscos burocráticos e fiscais. Setores exportadores seriam mais afetados, com redução na demanda, desde segmentos de minério de ferro até os de commodities agrícolas.
Qual é o impacto argentino?
A Argentina tem situação econômica muito debilitada. A preocupação que existe é de que um novo governo peronista, se eleito, poderá adotar medidas protecionistas, como aconteceu no passado. O maior importador de produtos industrializados do Brasil é a Argentina. É preciso esperar um pouco para ver qual será a política econômica em caso de vitória da oposição.
O que fazer para amenizar efeitos externos?
O Brasil precisa fazer, urgentemente, as reformas. Terminar a da Previdência, avançar na tributária e diminuir o custo do Estado. Isso é necessário para voltar a crescer.