
Os efeitos da tensão global no mercado financeiro podem atingir o bolso dos consumidores brasileiros. Com a recente disparada do dólar, combustíveis e alimentos produzidos a partir de commodities tendem a ficar mais caros. A projeção aparece no radar porque os valores das matérias-primas estão sujeitos a oscilações da moeda americana. Esse grupo contempla, por exemplo, o trigo usado em receitas de pães e o petróleo, necessário para produção de combustíveis.
Até o momento, a inflação, que mede o comportamento dos preços, está em nível considerado baixo no país. No acumulado de 12 meses encerrado em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 3,22%, abaixo do centro da meta perseguida pelo Banco Central em 2019, de 4,25%.
– Com o eventual repasse da alta do dólar aos preços, pode haver algum repique na inflação. A gasolina, por exemplo, está sujeita à variação cambial. Não estou dizendo que a inflação vai disparar. Pode sofrer efeitos. As incertezas globais trazem impactos financeiros – frisa o economista Marcos Tadeu Caputi Lélis, professor da Unisinos.
Gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco sugere que o país mantenha o foco na resolução de problemas internos para amenizar eventuais reflexos de choques internacionais.
– O grande problema brasileiro não é externo. O retorno dos investimentos ao país, por exemplo, depende da recuperação fiscal. Para isso, reformas, privatizações e mudanças regulatórias são necessárias – defende Castelo Branco.
Professor da Fundação Getulio Vargas, o economista Nelson Marconi acrescenta que, dados os obstáculos externos, o Brasil precisaria avançar na realização de obras de infraestrutura para estimular a retomada da economia. Na visão de Marconi, há espaço tanto para concessões à iniciativa privada quanto para investimentos públicos na área. Nesse sentido, o economista avalia que o governo Jair Bolsonaro deveria rever seu posicionamento e usar mais o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no apoio a projetos.
– A retomada passa pelo investimento em infraestrutura – reforça Marconi.