O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros avalia que não resta outra saída ao governo Jair Bolsonaro a não ser intensificar medidas para garantir recursos a empresas e famílias durante a crise do coronavírus. Na entrevista a seguir, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também aponta diferenças e semelhanças do atual momento frente à turbulência financeira de 2008. Além de comandar o BNDES, Mendonça de Barros atuou nos anos 1990 como ministro das Comunicações na gestão Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Como o senhor descreve o atual momento da economia?
Tenho 50 anos de profissão e nunca passei por isso. É algo extraordinário. Já vi várias crises no Brasil e no Exterior, mas não com esta complexidade. Brinquei com meus netos ao dizer que esta é a primeira coisa que vivemos juntos pela primeira vez. O que acontecerá com a economia dependerá da situação da saúde. Tem gente que acha que o problema será passageiro, tem gente que acha que vai demorar mais.
As notícias são de que, na China, o cenário está se normalizando. O presidente chinês, Xi Jinping, passou por período de questionamento pela forma como o país lidou com a crise do coronavírus na fase inicial. O que acontece durante o problema é um colapso da economia, tanto pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda. A crise na saúde é o que chamamos de cisne negro, ou seja, algo que ninguém esperava.
A situação atual tem alguma semelhança com a turbulência registrada em 2008?
A crise atual é nova em razão de sua origem. Mas tem alguns componentes parecidos com a de 2008. Um deles é o pânico no mercado financeiro.
Quais são as ações necessárias neste momento para amenizar as perdas na economia?
É preciso jogar dinheiro no sistema financeiro. O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) fez isso, o governo americano lançou um pacotaço, com dinheiro para todo mundo, para evitar a quebradeira de empresas. É assim. Tem de ser assim. É preciso colocar dinheiro no caixa das pessoas e das empresas. Se estiver certo, e espero estar, esta é uma crise de três, quatro meses. Se os governos agirem corretamente, vai passar.
Como o senhor avalia a atuação do governo Bolsonaro para atenuar os prejuízos na economia?
O Banco Central cuida do mercado financeiro, fez isso corretamente aqui no Brasil, diminuiu compulsórios, criou uma série de facilidades. Mas não resolve o problema. O Paulo Guedes (ministro da Economia) é um monetarista de Chicago, não aceita a análise keynesiana de jogar dinheiro para empresas e pessoas. O Banco Central tem de evitar a quebradeira de bancos, mas a política monetária não chega a empresas e pessoas agora.
Por quê?
A população sofre por falta de renda, e as empresas sentem falta de recursos. Tem de botar dinheiro nelas. É uma pena o que aconteceu com o BNDES. O erro é amarrar o banco deste jeito. O BNDES sempre foi importante em momentos assim.
Quais são as medidas adotadas no Exterior que poderiam servir de exemplo para o Brasil?
O país tem de olhar para o pacote da Inglaterra, que tem governo ultraconservador. Lá existe um programa muito radical, para dar dinheiro nas mãos das pessoas. O governo americano fechou um pacote de trilhões de dólares. Tem de pegar essas ideias e trazer para cá.