O dia 15 de setembro de 2008 entrou para a história do mercado financeiro como a segunda-feira negra. Naquela data, bolsas de valores despencaram com a falência de um dos grandes bancos de investimento dos Estados Unidos, o Lehman Brothers. Principal face da crise à época, o colapso da instituição é apontado como um dos reflexos da bolha imobiliária formada no país. Depois de chacoalhar o mercado financeiro, a turbulência se espalhou por diversos setores, e o Brasil não ficou imune à onda de preocupação.
Menos de 12 anos depois, a economia nacional volta a ser abalada por uma crise nascida no Exterior. Desta vez, é um problema sanitário, a pandemia de coronavírus, que coloca em xeque a atividade. A questão é que, segundo analistas, o choque nos negócios tende a ser bem mais severo agora do que o registrado entre 2008 e 2009. Diante da situação, espera-se que o governo Jair Bolsonaro intensifique medidas para tentar diminuir as perdas nos próximos meses.
Abaixo, veja diferenças entre as crises de 2008 e 2020.
Como foi em 2008
As origens
O descontrole do mercado imobiliário dos EUA está por trás da crise global de 2008. Anos antes de a bolha do setor estourar, bancos passaram a conceder empréstimos de alto risco. Até quem estava desempregado tinha chance de obter financiamento para compra de imóveis no país.
Ao mesmo tempo, as instituições financeiras americanas lançaram investimentos com rendimentos condicionados a essas operações imobiliárias. Apesar de as aplicações apresentarem alto risco, as elevadas taxas de juro atraíram interessados. O problema é que muitos americanos não conseguiram quitar suas dívidas com os imóveis adquiridos.
A partir daí, houve efeito cascata. Instituições financeiras contabilizaram prejuízos, bolsas de valores despencaram. O símbolo da crise foi a falência do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. A quebra do banco espalhou temores pelo planeta.
Os impactos
Inicialmente, a crise surgida nos EUA se refletiu no mercado financeiro do Brasil. A bolsa de valores de São Paulo passou a acumular tombos. Ao final de 2008, a queda de seu principal índice, o Ibovespa, chegou a 41%. Mesmo assim, a economia real ainda ia bem. Ao final do ano, o PIB brasileiro cresceu 5,1%. Só foi piorar em 2009, quando o indicador registrou variação negativa de 0,1%.
A saída
Ao mesmo tempo em que o Banco Central agia para acalmar os ânimos no mercado financeiro, o Brasil apresentava quadro fiscal mais tranquilo, indicam analistas. Com fôlego no orçamento, o governo tinha maior capacidade para fazer investimentos públicos e incentivar o consumo das famílias. Assim, ao final de 2010, o PIB saltou 7,5%. Nos anos posteriores, houve piora no quadro fiscal, colaborando para a chegada da recessão em 2015 e 2016.
Como é em 2020
As origens
O choque na economia global em 2020 está relacionado a um inimigo invisível, o coronavírus. Até então desconhecido, o problema sanitário provocou pânico no mercado financeiro e paralisação de empresas de setores diversos. Os primeiros relatos da contaminação foram registrados em dezembro passado, em Wuhan, na China.
Os impactos
Para tentar conter o vírus, o governo chinês adotou uma série de medidas que restringiram a circulação de pessoas e mercadorias. Apesar de o nível de contaminação ter sido freado no país asiático, o problema se alastrou pelo mundo. E o Brasil não ficou imune.
Devido à pandemia, setores como comércio, indústria, aviação e turismo estão sendo duramente afetados, já que a comunidade médica recomenda à população o isolamento como forma de evitar o contágio.
A situação tende a derrubar o desempenho previsto para a economia brasileira em 2020. No início do ano, previsões indicavam alta de cerca de 2% para o PIB. A aposta mais recente do governo Jair Bolsonaro é de variação positiva de 0,02%, mas parte dos analistas já estima queda do indicador, o que jogaria o país de volta à recessão.
A possível saída
Economistas de diferentes linhas de pensamento apontam que resta ao país aumentar gastos públicos para tentar diminuir os estragos. O próprio governo federal reconheceu a situação ao pedir ao Congresso a aprovação do estado de calamidade pública, que garante a possibilidade de descumprimento da meta fiscal neste ano. Apesar disso, especialistas frisam que o Ministério da Economia tem de acelerar as ações para evitar a quebradeira de empresas e o aumento do desemprego nos próximos meses.