A notícia mais alentadora das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para recessão provocada pelo coronavírus não é um número, mas uma letra: V. Em economês, significa que as perdas serão grandes, mas devem ser recuperadas também com rapidez. Ainda não é consenso entre economistas, que têm outras curvas no cenário. Mas é saudável que venha de uma instituição preocupada com a própria credibilidade. No mundo, a recuperação em 2021 (5,8%) deverá compensar com folga a queda prevista para este ano (-3%). No Brasil, não. Depois do tombo de 5,3%, viria uma reação de 2,9%.
Ao apresentar suas novas projeções para as principais economias, nesta terça-feira (14), o FMI avalia que a crise é sem precedentes e "há uma incerteza substancial sobre seu impacto na vida e nos meios de subsistência das pessoas. Depende muito da epidemiologia do vírus, da eficácia das medidas de contenção e do desenvolvimento de terapêuticas e vacinas, todas difíceis de prever".
E a instituição que ajudou a reformular a economia mundial depois da Segunda Guerra Mundial repete o mantra da resposta econômica à crise que tem origem na saúde: "as respostas de políticas domésticas e internacionais precisam ser grandes, implantadas rapidamente e recalibradas rapidamente à medida que novos dados se tornam disponíveis".
O Brasil terá uma recuperação mais lenta do que a média mundial por dois motivos. O primeiro é por ainda não ter apresentado a rapidez e a intensidade necessárias nas medidas de compensação. As iniciativas adotadas no país estão no rumo certo, na visão do ex-ministro e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros. Segundo ele, a crise de 2008 mostrou o caminho: resolver o problema de caixa das pessoas e das empresas.
– Isso reduz o impacto da recessão, permite sobreviver até o restabelecimento do funcionamento da economia. O Estado (no sentido de poder público, no caso do Brasil, a União) sai mais endividado, mas sairia de qualquer maneira de todos quebrassem. Se o volume está certo, não sabemos ainda, vamos saber pelo tamanho da crise que vem.
Outro problema brasileiro é o fato de ter entrado na crise do coronavírus também mais frágil do que a média dos países. O anêmico resultado do Indicador da Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de fevereiro, também anunciado nesta terça-feira (14), evidencia que o país já vinha rodando a baixa velocidade antes de ser parado na contramão pelo vírus.
A variação de 0,35% foi até superior ao esperado, mas nos três meses fechados em fevereiro (fevereiro, janeiro e dezembro de 2019 comparado ao período anterior de três meses) recuou 0,2%. Conforme André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, evidencia que o processo de crescimento esperado para 2020 até antes da pandemia já estava comprometido.
O economista adiantou à coluna que não vai refazer suas projeções para o PIB até ter os dados concretos de março, quando efetivamente a crise se abateu na economia. Segundo Perfeito, seria "prematuro" alterar a projeção sem esses dados. A coluna concorda, mas exercícios como os do FMI são importantes até para mostrar que o esforço para amenizar os impactos do coronavírus no Brasil precisa ser calibrado.
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