Hesitante entre os papéis de realista compungido e animador de convés do Titanic, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, na quinta-feira à noite, que o PIB pode cair até 4%, se o isolamento social passar de julho. Foi em uma teleconferência com senadores, parte do esforço para garantir a aprovação do chamado "orçamento de guerra", de combate ao vírus.
A hesitação de Guedes se justifica: sabe-se que o efeito da pandemia e de seu enfrentamento serão duros, mas ainda é difícil dimensioná-lo com alguma precisão. Não só porque não se sabe até quando será preciso manter o distanciamento, mas porque a crise tem fenômenos novos, que nunca frequentaram qualquer modelo que tenta projetar o futuro da economia.
Uma dessas novidades é uma iniciativa individual que já inclui cerca de 3 mil empresas que não vão desempregar, a #nãodemita (leia aqui a entrevista com seu criador, Daniel Castanho). Outra é o exército que, se não está nas lojas ou nas fábricas, produz máscaras, aventais e comida para entregar a profissionais de saúde ou a famílias que ficaram sem alternativa de renda. Há uma riqueza que circula fora dos canais habituais.
Além disso, o que virá depois do coronavírus? Assim que forem abertas, as lojas vão se encher? Já não vinham muito lotadas antes da pandemia. Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga, explicitou uma dúvida que deveria estar na cabeça de todos:
— Suspender a quarentena não significa que as pessoas vão sair gastando e os empregos vão ser preservados na sua plenitude.
O que Guedes precisa fazer, portanto, é menos tentar projetar a queda do PIB e mais acelerar a concretização das medidas que garantam o maior amortecimento possível.