Analistas e empresários celebraram o resultado do leilão promovido pela Aneel nesta quinta-feira (20), que concedeu a cinco grupos a responsabilidade sobre as obras de R$ 5,3 bilhões em linhas de transmissão para escoamento da energia produzida no Estado.
Na visão dos especialistas no setor, a divisão de responsabilidade sobre as obras reduz riscos. Antes, a maior parcela do investimento (cerca de R$ 4 bilhões) estava sob controle da Eletrosul, que teve a concessão cassada pela Aneel em setembro devido a atrasos na realização dos trabalhos.
— O leilão foi bastante disputado. Antes, os riscos relacionados a quatro blocos estavam todos concentrados em apenas um contrato. Com cinco grupos, a situação é diferente — avalia o consultor na área de energia Ronaldo Lague.
A vitória dos cinco grupos globais no certame também aumenta a expectativa de que as obras sejam finalizadas antes do prazo estimado pela Aneel, diz o gaúcho Ricardo Pigatto, ex-presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel). Dos lotes no Estado, quatro têm de ser concluídos em quatro anos, e um trecho, em cinco.
— A divisão das obras entre as empresas foi excepcional, porque deve dar velocidade para os trabalhos. As companhias vencedoras são conhecidas. Devem garantir, sem tropeços, a construção das estruturas — projeta Pigatto.
Como foi o leilão
Segundo as regras do leilão, os grupos vencedores foram aqueles que ofereceram o maior deságio por lote. Ou seja, os investidores que propuseram o maior desconto em relação à receita máxima anual que poderiam alcançar com os empreendimentos. Os trechos gaúchos do leilão foram numerados como 10, 11, 12, 13 e 14 – o último inclui parte de Santa Catarina.
Com o maior investimento previsto no Estado (R$ 2,4 bilhões), o Lote 10 foi arrematado pelo consórcio Chimarrão, que ofereceu R$ 219,5 milhões, desconto de 42,38% frente à remuneração máxima permitida. O grupo é formado pela Cymi, controlada por investidores espanhóis, e pela Brasil Energia, do fundo canadense Brookfield.
Dona da RGE e da RGE Sul, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) ficou com o Lote 11, ao oferecer R$ 33,8 milhões, deságio de 38,51%. A companhia está sob o guarda-chuva dos chineses da State Grid.
Controlada pela colombiana Isa e pela mineira Cemig, a Taesa arrematou o Lote 12, com proposta de R$ 58,9 milhões, desconto de 38,8%. O Lote 13 ficou com os indianos da Sterlite, que ofereceram R$ 74,7 milhões, deságio de 38,9%.
A Neoenergia arrematou o Lote 14, que prevê investimento de R$ 1,2 bilhão no Estado e em parte de Santa Catarina. Controlada pelos espanhóis da Iberdrola, a companhia ofereceu R$ 120,9 milhões, desconto de 39,9% frente à remuneração máxima para o trecho.
Os cinco lotes no RS
Lote 10
Vencedor: Consórcio Chimarrão, com proposta de R$ 219,5 milhões
O que prevê: 1,2 mil quilômetros de linhas de transmissão e duas novas subestações
Prazo para término das obras: quatro anos
Investimento estimado: R$ 2,4 bilhões
Previsão de novos empregos diretos: 6.088
Finalidade: integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul
Municípios: Candiota, Pinheiro Machado, Piratini, Canguçu, Amaral Ferrador, Dom Feliciano, São Jerônimo, Camaquã, Cerro Grande do Sul, Barão do Triunfo, Sertão Santana, Mariana Pimentel, Guaíba, Eldorado do Sul, Dois Irmãos, Ivoti, Lindolfo Collor, Capela de Santana, Montenegro, Portão, São Sebastião do Caí, Araricá, Gravataí, Nova Hartz, Novo Hamburgo, Sapiranga, Charqueadas, Triunfo, Nova Santa Rita, Rio Grande, Capão do Leão, Pelotas, Turuçu, São Lourenço do Sul, Cristal, Camaquã, Sentinela do Sul, Barão do Triunfo, Arroio dos Ratos, Santa Vitória do Palmar, Rio Grande, Capão do Leão, Arroio Grande, Guaíba e Porto Alegre
Lote 11
Vencedor: CPFL Geração de Energia, com proposta de R$ 33,8 milhões
O que prevê: 85,4 quilômetros de linhas de transmissão e três novas subestações
Prazo para término das obras: quatro anos
Investimento estimado: R$ 348,9 milhões
Previsão de novos empregos diretos: 872
Finalidade: integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul
Municípios: Porto Alegre, Vila Maria, Caraá, Osório, Santo Antônio da Patrulha, Canoas, Esteio, Glorinha, Gravataí e Sapucaia do Sul
Lote 12
Vencedor: Taesa, com proposta de R$ 58,9 milhões
O que prevê: 587 quilômetros de linhas de transmissão e duas novas subestações
Prazo para término das obras: quatro anos
Investimento estimado: R$ 610,3 milhões
Previsão de novos empregos diretos: 1.525
Finalidade: integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul.
Municípios: Santana do Livramento, Quaraí, Alegrete, Rosário do Sul, São Gabriel, Cacequi, Dilermando de Aguiar, Santa Maria, Alegrete, Itaqui, e Maçambará
Lote 13
Vencedor: Sterlite, com proposta de R$ 74,7 milhões
O que prevê: 316 quilômetros de linhas de transmissão e uma nova subestação
Prazo para término das obras: quatro anos
Investimento estimado: R$ 776,8 milhões
Previsão de novos empregos diretos: 1.942
Finalidade: integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul e aumento da capacidade de suprimento da Região Metropolitana
Municípios: Capivari do Sul, Alvorada, Viamão, Dois Irmãos, Ivoti, Lindolfo Collor, Taquara, Capela de Santana, Montenegro, Portão, São Sebastião do Caí, Santo Antônio da Patrulha, Araricá, Eldorado do Sul, Glorinha, Nova Hartz, Parobé, Sapiranga, Charqueadas, Triunfo e Gravataí
Lote 14
Vencedor: Neoenergia, com proposta de R$ 120,9 milhões
Extensão: 769,3 quilômetros de linhas de transmissão e duas novas subestações
Prazo para término das obras: cinco anos
Investimento estimado: R$ 1,2 bilhão
Previsão de novos empregos diretos: 2.429
Finalidade: integração do potencial eólico do Rio Grande do Sul e atendimento elétrico de parte de Santa Catarina
Municípios:
-RS: Rio Grande, Capão do Leão, Pelotas, Turuçu, São Lourenço do Sul, Cristal Camaquã, Cerro Grande do Sul, Sertão Santana, Mariana Pimentel, Guaíba, Eldorado do Sul, Capivari do Sul, Osório, Santo Antônio da Patrulha, Caraá, Rolante, Taquara, São Francisco de Paula, Jaquirana, Cambará do Sul, São José dos Ausentes, Timbé do Sul, Santana do Livramento, Rosário do Sul, São Gabriel, Cacequi, Dilermando de Aguiar, Santa Maria, Charqueadas, Triunfo, Montenegro, Nova Santa Rita e Capela de Santana
-SC: Morro Grande, Nova Veneza, Siderópolis, Forquilhinha, Treviso e Urussanga
Setor de energia eólica seria o mais beneficiado
Embora a projeção de analistas indique que as obras trariam benefícios para todo o setor de energia, a área eólica é vista com atenção especial. Segundo a Secretaria de Minas e Energia, o Rio Grande do Sul tem 38 projetos, em diversos estágios de licenciamento ambiental, para geração a partir do vento, que somam cerca de 7,3 mil MW em capacidade instalada – significaria quadruplicar o atual potencial de geração.
– A eólica é a fonte que mais sofre, porque os projetos geralmente são grandes e ficam longe dos centros de carga – em fazendas, por exemplo. Por isso, precisam de linhas de transmissão – diz o diretor de inovação, fontes energéticas e mineração da Secretaria Estadual de Minas e Energia, Eberson Silveira.
Hoje, o Rio Grande do Sul abriga 80 parques que dependem do vento para funcionar – 76 estão em operação. Conforme a secretaria, os complexos, distribuídos em nove cidades, respondem por 22,4% de toda a capacidade de geração elétrica instalada no Estado. O percentual só é menor do que o registrado pelas 125 hidrelétricas gaúchas. Nelas, chega a 4,5 mil MW (55,5% do total).
– O setor de energia depende das condições de infraestrutura. Mas o potencial de crescimento de fontes renováveis, como a eólica, é grande – afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari.
O Estado tem a quarta maior capacidade instalada do país em parques que operam conforme o comportamento dos ventos. A liderança é do Rio Grande do Norte.
No Brasil, há 568 parques eólicos, com 14,3 mil MW de capacidade instalada. A marca equivale à mesma potência de geração de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do país, destaca a ABEEólica, que representa o segmento.