A energia eólica cresceu na última década e virou a segunda maior fonte dentro do setor elétrico do Rio Grande do Sul, mas o avanço de novos projetos esbarra em dificuldades de transmissão. Em 2018, a capacidade instalada nos parques gaúchos que operam movidos pelo vento segue estável em 1,8 mil megawatts (MW), mesmo patamar de 2017, indica a Secretaria Estadual de Minas e Energia, com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ou seja, novos projetos não saíram do papel.
O segmento de transmissão é responsável por conduzir a eletricidade produzida nas usinas até as linhas de distribuição, que chegam aos endereços dos consumidores. Como a possibilidade de absorver mais geração está esgotada no Estado, há necessidade de investimentos nessa área para ampliar a capacidade de geração do setor.
– Hoje, o Estado não está com problemas de abastecimento.
Está bem para o atendimento durante todo o verão. Mas, para agregar novos projetos, não há conexão suficiente. O Rio Grande do Sul precisa de mais linhas de transmissão para escoar energia – afirma o diretor de Inovação, Fontes Energéticas e Mineração da Secretaria Estadual de Minas e Energia, Eberson Silveira.
Um sopro de alívio pode ser confirmado na próxima quinta-feira. Na ocasião, a Aneel promoverá leilão que prevê aporte de cerca de R$ 5,3 bilhões em subestações e linhas de transmissão no Estado.
A maior parcela do investimento – cerca de R$ 4 bilhões – integrava o chamado Lote A, mergulhado em impasse desde 2014. À época, a Eletrosul venceu leilão para fazer as obras. Diante da crise nas finanças, buscou parceria com os chineses da Shanghai Electric. Em setembro, quando havia esperança de que um acordo poderia desengavetar os empreendimentos, os asiáticos comunicaram a desistência.
Com isso, a Aneel cassou a concessão da subsidiária da Eletrobras e marcou novo leilão, cujo prazo para inscrições de interessados e apresentação de garantias terminou no último dia 11. A lista com os registrados será divulgada apenas no dia do certame.
Embora a projeção de analistas indique que as obras trariam benefícios para todo o setor de energia, a área eólica é vista com atenção especial. Segundo a Secretaria de Minas e Energia, o Rio Grande do Sul tem 38 projetos, em diversos estágios de licenciamento ambiental, para geração a partir do vento, que somam cerca de 7,3 mil MW em capacidade instalada – significaria quadruplicar o atual potencial de geração.
– A eólica é a fonte que mais sofre, porque os projetos geralmente são grandes e ficam longe dos centros de carga – em fazendas, por exemplo. Por isso, precisam de linhas de transmissão – diz Silveira.
Hoje, o Rio Grande do Sul abriga 80 parques que dependem do vento para funcionar – 76 estão em operação. Conforme a secretaria, os complexos, distribuídos em nove cidades, respondem por 22,4% de toda a capacidade de geração elétrica instalada no Estado. O percentual só é menor do que o registrado pelas 125 hidrelétricas gaúchas. Nelas, chega a 4,5 mil MW (55,5% do total).
– O setor de energia depende das condições de infraestrutura. Mas o potencial de crescimento de fontes renováveis, como a eólica, é grande – afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari.
O Estado tem a quarta maior capacidade instalada do país em parques que operam conforme o comportamento dos ventos. A liderança é do Rio Grande do Norte.
No Brasil, há 568 parques eólicos, com 14,3 mil MW de capacidade instalada. A marca equivale à mesma potência de geração de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do país, destaca a ABEEólica, que representa o segmento.
Previsto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no leilão da próxima quinta-feira, o investimento bilionário em energia no Rio Grande do Sul contempla 2,9 mil quilômetros de linhas de transmissão e 10 novas subestações. Depois de cassar a concessão da Eletrosul, em setembro, a Aneel dividiu o projeto do Lote A em quatro blocos e incluiu novo trecho de obras, que também inclui parte de Santa Catarina Por conta do acréscimo, o valor total estimado para o aporte subiu de cerca de R$ 4 bilhões para R$ 5,3 bilhões.
Ao apresentar as características dos lotes, a agência sublinha que os empreendimentos têm, entre seus objetivos, a "integração do potencial eólico" gaúcho. O prazo estipulado para a conclusão das obras varia de quatro a cinco anos. Para representantes do setor de energia, a proposta de divisão do Lote A em quatro blocos, além da inclusão de novo trecho, tende a provocar benefícios, como a redução de riscos. Segundo a Aneel, a construção das estruturas previstas para o Estado pode gerar 12,9 mil empregos diretos.
– O fatiamento é ótimo, porque as obras têm longos prazos de execução. Essa é a melhor opção. Assim, mais empresas poderão fazer os trabalhos – avalia o presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), o gaúcho Ricardo Pigatto.
– Deve haver maior competitividade. Antes, os riscos eram grandes porque todo o projeto estava atrelado a uma empresa. A competitividade tende a fazer com que cada um dos envolvidos faça sua parte – comenta o presidente do Sindicato das Empresas de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari.