A construção de 1,9 mil quilômetros de linhas de transmissão no Rio Grande do Sul, com aporte de R$ 3,9 bilhões, abre espaço para investimentos sete vezes maiores nos próximos anos. O conjunto de obras, que deve ser entregue em 2022, amplia em 4,8 mil megawatts (MW) a capacidade de o Estado escoar energia. Com isso, pode viabilizar projetos de usinas que estão engavetados por falta de conexão ao Sistema Integrado Nacional (SIN).
O gerente de planejamento energético da Secretaria de Minas e Energia, Eberson Silveira, calcula que, com as linhas, o Estado ganha, em tese, o potencial de destravar projetos de geração de capacidade semelhante. Ao custo médio de R$ 6 milhões por MW, poderia chegar a R$ 28,8 bilhões em usinas eólicas, hidrelétricas e térmicas. Para isso, ainda é preciso que passem por futuros leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). De acordo com a pasta, empreendimentos de 2,7 mil MW no Estado acabaram inabilitados em processos da agência nos últimos anos pela falta de estrutura para transportar a geração.
Nesta segunda-feira, no Palácio Piratini, Eletrosul e as chinesas Shanghai Electric e Zhejiang Energy formalizaram a criação da sociedade de propósito específico (SPE) SZE Transmissora de Energia Elétrica S.A, que vai construir e operar as linhas. Nesta terça-feira, na Aneel, em Brasília, será formalizada a solicitação para a transferência da concessão do pacote de obras da Eletrosul para a SPE. A partir da anuência da agência, são 48 meses para o início da operação comercial das linhas. Existe a intenção, porém, de antecipar alguns sublotes para até 36 meses.
— É um empreendimento esperado por todos há muito tempo. Cria a possibilidade de aumentarmos nossa oferta de energia em 50% — disse a secretária de Minas e Energia, Susana Kakuta.
O Estado tem hoje 9,6 mil MW de potência instalada em geração de energia e estoque de projetos de mais 14,6 mil MW, que significariam R$ 80 bilhões em investimentos. A principal fonte à espera das linhas é a eólica. São 7,3 mil MW em empreendimentos.
O presidente da Eletrosul, Gilberto Eggers, diz acreditar que será possível iniciar as obras ainda este ano. Segundo ele, é interesse da própria Aneel agilizar o processo de transferência da concessão. Das 44 licenças de instalação requeridas, principalmente junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), 39 foram liberadas.
— Acredito que será rápido. A Aneel é o órgão que mais tem nos cobrado para isso — diz Eggers.
As linhas de transmissão estão atrasadas. Subsidiária da estatal federal Eletrobras, Eletrosul venceu o leilão para a realização das obras em novembro de 2014, mas, dois anos depois, por falta de condições financeiras, fez chamada pública para selecionar empresas interessadas em se associar ao projeto. A Shanghai Electric foi a escolhida. Da área de transmissão, a Zhejiang entrou na SPE neste ano. Terá o papel de financiar as obras.
— Com a parceria de três partes realizaremos este projeto com sucesso — disse Li Xiaoming, executivo da Shangai.
Durante o seu pronunciamento, o executivo da Zhejiang, Chai Xiqiang, causou estranheza ao referir que ainda era necessária aprovação da direção da empresa na China para confirmar o ingresso no negócio. Trinta dias seria o prazo. Depois, foi explicado que se tratava apenas de uma etapa burocrática para a transferência de recursos da matriz. Nada que colocasse em dúvida a participação da empresa na SPE.
A obra, em diferentes sublotes, vai passar por 59 municípios gaúchos. Vai beneficiar regiões como Campanha, Centro-Oeste, Zona Sul e Região Metropolitana. Na Grande Porto Alegre, a intenção é melhorar a confiabilidade do sistema. A expectativa é de que as obras gerem até 11 mil empregos, entre diretos e indiretos.
O empreendimento
-Construção de 1,9 mil quilômetros de linhas de transmissão e de oito subestações
-Ampliação de 14 subestações existentes
-Investimento de R$ 3,967 bilhões
-Na construção, podem ser gerados até 11 mil empregos diretos e indiretos
Participação na nova empresa
Shanghai Electric: 44%
Zhejiang Energy: 28%
Eletrosul: 27,5%
Benefícios
-O conjunto de obras ampliará a capacidade do sistema de transmissão do Rio Grande do Sul em 4,8 mil megawatts (MW)
-As linhas abrem espaço para a construção de usinas que, somadas, poderiam chegar à mesma capacidade de 4,8 MW
-Calculando-se ao custo médio de R$ 6 milhões por MW, cria oportunidade para investimentos de R$ 28,8 bilhões
-Para se viabilizarem, no entanto, estas futuras usinas ainda precisam passar por leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Como se dividem os projetos de usinas
Eólicas: 7,3 mil MW
Hidrelétricas: 2,8 mil MW
Termelétricas a carvão: 3,3 mil MW
Termelétricas a gás natural: 1,24 mil MW
Investimentos: R$ 80 bilhões
Panorama da energia do RS
-Em geração, o Estado tem hoje 9,6 mil MW de potência instalada
-Existem ainda em carteira 14,6 mil MW em projetos de geração, com investimentos potenciais de R$ 80 bilhões.
-Nos últimos leilões da Aneel, cerca de 2,7 mil MW em projetos do Rio Grande do Sul foram inscritos mas não habilitados a participar por falta de conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN).