Personagem-título da saga literária que apresenta e explica o Rio Grande do Sul, o vento foi por muitos anos apenas fenômeno natural com estatura cultural e comportamental. Mas um dos protagonistas do clássico O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, virou atividade econômica nos anos 2000. O Estado em que soprou história também apresentou seus resultados energéticos ao Brasil: o parque eólico de Osório foi um dos primeiros a ser erguido e, durante anos, foi o maior do país. Então, o vento parou.
Primeiro, perdemos protagonismo para o Rio Grande do Norte, que apesar da restrição territorial ganhou ares de gigante na atração de investimentos. Montou uma estratégia tão agressiva que chegou a faltar conexão física para tantos parques inaugurados não só no litoral potiguar como em todo o Nordeste.
Depois, faltou articulação para garantir a chegada de nova energia soprada por minuanos e correntes menos famosas até a rede que se conecta com a casa dos consumidores.
A crise econômica juntou seu grão de areia: sem a pressão do consumo, não houve urgência na multiplicação das pistas que transportam eletricidade. O colapso de estatais que abusaram da elasticidade do orçamento público atingiu a Eletrosul, que ficou sem recursos para tocar a obra bilionária que garantiria o escoamento.
A conexão que falta para a energia é como uma estrada do setor elétrico. As que existem estão congestionadas, sem capacidade de escoar tráfego de elétrons. Deixamos de construir, portanto não adianta produzir mais se a força gerada não terá como chegar onde precisa. Além de impedir a circulação, o esgotamento do sistema de transmissão também travou projetos estimados entre R$ 10 bilhões e R$ 30 bilhões. Nos anos de rajadas de projetos, o Estado ganhou empresas produtoras de equipamentos e novos parques. Como andam juntos, o vento parou o tempo de investir no Estado. É hora de voltar a soprar.