Até esta semana, a Coreia do Sul simbolizava o que o Brasil poderia ter sido se tivesse adotado as medidas econômicas adequadas nas últimas décadas. Uma das comparações mais usadas era esta: em 1980, o PIB per capita sul-coreano equivalia a 17,5% do mesmo indicador nos Estados Unidos, enquanto o brasileiro era 39%. Em quatro décadas, a Coreia do Sul passou a ter 66% do PIB per capita americano, enquanto o do Brasil caiu a 25,8%.
E aí, veio o autogolpe. E o fracasso do autogolpe. E o pedido de impeachment do presidente golpista. É outra lição para o Brasil, que neste momento digere os documentos de iniciativa semelhante que chegou a estar em curso há apenas dois anos, como demonstra a Polícia Federal no relatório (leia a íntegra aqui) que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas.
A primeira lição é que, infelizmente, golpes de Estado e tentativas não ficaram no passado remoto, nem são exclusividade de repúblicas de bananas. Outra é que, mesmo quando planejados por pessoas mais eficientes, podem ser derrotados por forças democráticas. Até em um país que tem um inimigo real ao lado.
Quem relativiza o risco que o Brasil enfrentou em 2022 falando em "exército de Brancaleone" e "aloprados" também pode aprender com a experiência da Coreia do Sul. Diferentemente do Brasil, não faltou temeridade aos golpistas coreanos.
Mas da mesma forma como se tentou por aqui, o atentado à democracia na Coreia do Sul foi feito sem tanques. Era supostamente "dentro das quatro linhas", usando uma suposta brecha legal que, na verdade, inexiste. A lei marcial foi a versão coreana para o artigo 142 ou para o estado de sítio, como mostram as duas imagens do relatório da PF abaixo.